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sexta-feira, 30 de março de 2012

Olga (2004)


Dirigido por Jayme Monjardim. Com Camila Morgado, Caco Ciocler e Fernanda Montenegro
Cotação: 7.1

Se Fincher pecou ao minimizar a figura e a participação de Lisbeth Salander em Millenium, outro diretor não deixou de lado a profundidade da força feminina em seu filme. Em 2005 Jayme Monjardim quis levar a público a extraordinária história de Olga Benário, uma líder da militância comunista nos anos 30 que veio parar no Brasil como protetora pessoal de Luiz Carlos Prestes e acabou revolucionando as ideias de combate dos comunistas brasileiros.

Com Prestes no exílio, estavam todos dispersos, sem um direcionamento mais produtivo para seus fins. Por isso, eram chamados de anarquistas. Com a chegada clandestina do líder da ANL no Brasil, os anarquistas sabiam que não seriam mais anarquistas e que agora seus ideais de liberdade deixariam de ser meros ideais. Prestes havia retornado e ao lado dele uma mulher que lutou bravamente por liberdade de expressão. Uma militante que propôs com afinco enfrentar os poderosos com sua experiência de batalhas anteriores pela Europa. A aproximação entre Prestes e Olga tornou-se mais afetiva, fortalecendo de uma maneira romântica a batalha. Assim, o casal de revolucionários conquistou importantes resultados na batalha, mas não venceu a Guerra. Prestes foi parar numa cela dos porões da Ditadura como preso político durante anos e Olga teve um destino mais insólito devido sua posição. Como era judia, foi deportada grávida para a Alemanha Nazista de Hitler. Após o nascimento de sua menina, foi mandada para um campo de concentração em Ravensbruck, na Alemanha, morrendo na Câmara de gás.

Esta é a narrativa histórica que se encontra nos livros. Uma narrativa que serviu como base para Jayme e a roteirista Rita Buzar. No entanto, o diretor queria aprofundar mais a história de sua protagonista. Mostrar quem de fato fora Olga Benário. Pra isso ele teve de se esforçar bastante e saber alguns detalhes da vida da revolucionária era tão complicado quanto conduzir uma batalha. Mesmo com uma história importante para contar, pouco se sabia sobre esta mulher que ajudou a libertar o Brasil da opressão. Nem mesmo em sua própria cidade na Alemanha, as pessoas desconheciam o nome e a pessoa de Olga.

Olga é um filme 100% nacional, onde a protagonista é divinamente interpretada por Camila Morgado, que brilhou nas cenas mais impactantes da personagem. Ao seu lado, o belo e talentoso Caco Ciocler como Prestes, oferece uma química perfeita para o casal. Tudo para oferecer ao público uma história primordial dentro da própria história. Contudo, a ausência de uma apuração mais enfática sobre sua vida, fez com que o diretor perdesse parte da essência do filme. A perspectiva criada em relação à personagem, sucumbe perante algo muito romantizado e ausente de cenas realmente relevantes para conduzir a história da revolução.

Se o filme falha nas características cine biográficas, a energia imposta sobre ele é direcionada para a uma obra de grande relevância da personagem historicamente. Olga é um filme capaz de levar muita gente às lágrimas e fazer refletir, como bem sintetiza sua intérprete Camila Morgado: “Hoje em dia falta muito desta coisa do coletivo. Falta muito do companheirismo, de valores. A gente tá esquecendo o valor de certas palavras como ser solidário, como questões humanitárias. Eu acho que a gente tem muita informação e pouca formação. A Olga é desta geração com muita formação. Veja bem, com 15 anos ela começou a militância. Com 15 anos ela já tinha lido o manifesto comunista. Eu não tive esta formação que ela teve”.

Contando com um elenco estelar que inclui Eliane Giardini, Osmar Prado e Fernanda Montenegro, é uma produção que sai por dois caminhos distintos. Uma bela obra de qualidade, excelentes atuações, mesmo deixando a desejar em seu objetivo principal.

Mulher, mãe, comunista, judia. Ela tinha todos os atenuantes para se resignar. Mas não. Mesmo diante das dificuldades de uma época de trevas, Olga Benário se manteve firme. Como uma idealista que nunca abdicou de seu desejo de viver. Até o último instante ela lutou pelo bom, pelo justo e pelo melhor do mundo.




quarta-feira, 28 de março de 2012

O Poderoso Chefão, parte I (1972) ANIVERSÁRIO DE 40 ANOS

The Godfather, part I, 1972. Dirigido por Francis Ford Coppola. Com Marlon Brando, Al Pacino, Diane Keaton, James Caan, Robert Duvall, Tália Shire e John Cazale.
Cotação: 10.0

Há quatro décadas um diretor franco-americano mudava os rumos do cinema ao conceber uma das melhores, senão a melhor, adaptação cinematográfica de todos os tempos, Poderoso Chefão (The Godfather). Com o auxílio do autor do imponente livro, Mario Puzzo, Francis Ford Coppola alcançou o estrelato ao mostrar de forma crua a epopéia dos Corleone, que comandavam o submundo do crime na Nova Iorque da década de 50.

Não tem quem desconheça a saga de Vito Corleone. É um dos mais famosos e parodiados filmes que se tem notícia, e não era para menos. Com uma trama intrincada e violenta, não poupa os mecanismos que movimentam a psique humana e colocam em cheque o maniqueísmo que está presente em todo ser pensante. O Texto de Puzzo e Coppola é denso e às vezes perturbador. Sem meios termos, expõe o público à faceta cruel da vida bandida e com planos abertos exibe uma violência poética.

O contexto do filme se contrapõe ao auge da ideologia do “the american way of life” seguida à risca pela classe burguesa americana no pós-guerra. Ainda exala polêmica ao subjetivar que todo o equilíbrio social da nação estadunidense estava sendo corrompido pelos imigrantes. A propaganda negativa, porém, não evitou que o longa atingisse uma aceitação gigantesca de público e crítica, faturando o três Oscar, incluindo filme e ator (Marlon Brando, que polemizou ao mandar uma índia feakie rejeitar seu prêmio).

A sincronia cronológica com que Coppola conduz a trama é demarcada pela sua sensibilidade e disposição em construir uma espécie de interlúdio, que mostra o exílio de Michael na terra natal de seu pai e principalmente a reviravolta que o levará a se tornar o novo Don. Tudo isso auxiliado pela brilhante trilha do experiente Nino Rota, veterano companheiro de Federico Fellini, juntamente com o pai do diretor, Carmine Coppola.

Marlon Brando exibe a melhor atuação masculina do cinema americano, depois de enfrentar o processo seletivo como qualquer um. Seu Vito Corleone é impiedoso ao mesmo tempo que passa uma sensibilidade fraterna que caracteriza o “padrinho” do título original. O ainda novato Al Pacino já demonstrava a segurança que o caracterizou para os mais diversos papéis. O restante do elenco é tão convincente quantos os protagonistas. Um entrosamento poucas vezes visto na sétima arte.

Uma produção magnífica que estará (e deve estar) sempre no top 5 de qualquer lista de cinéfilo que se preze. Uma jóia rara do cinema americano, e um dos pontos essenciais que ajudaram a salvar Hollywood em sua década mais importante. Trabalho minucioso de um diretor perfeccionista. Por fim, uma obra de arte obrigatória do início ao fim.

sexta-feira, 23 de março de 2012

FERNANDA MONTENEGRO

Nossa querida dama

Se perguntarem daqui a alguns anos quem foi Arlete Pinheiro da Silva certamente poucas pessoas saberão responder. A menina que subiu ao palco com apenas 7 anos de idade em sua cidade natal, o Rio de Janeiro, já desde cedo começou a encantar. E hoje, anos depois, como Fernanda Montenegro, ela provou que a metamorfose da nomenclatura não diminuiu seu encanto precoce.

Nascida em 16 de Outubro de 1929, Arlete Pinheiro, como a maioria das meninas pobres teve de começar a trabalhar muito cedo. Fazia madureza ginasial e depois optou por secretariado. Depois de passar num concurso para a Rádio de Ministério da educação como locutora e radio atriz, se formou em Magistério dando aulas de Português na Berlitz School.

O final dos anos 40 selaria sua carreira artística tanto individualmente quanto conjugalmente. Foi na peça As alegres canções da montanha que conheceu seu marido Fernando Torres, do qual herdou seu primeiro nome para fins artísticos. Com ele casou-se e tiveram dois filhos, um deles a talentosa atriz Fernanda Torres. Na década de 50 recebeu seu primeiro prêmio da Associação de Críticos Teatrais como atriz revelação pela peça Loucura do Imperador. Foi pioneira no ramo ao atuar nas primeiras companhias teatrais da época. Foi seu notório talento que a levou a alçar voos maiores e mais significativos ao fundar o chamado Teatro dos Sete, ao lado de nomes como Sérgio Brito e Ítalo Rossi.

O sucesso dos palcos a levou para as telas, onde estrelou vários sucessos e alguns fracassos também. Guerra dos sexos foi um dos seus maiores êxitos, talvez por ter uma essência teatral, uma vez que teve como parceiro de cena o extraordinário Paulo Autran, num dos personagens mais memoráveis da história da TV. Mas nada se compara a essência única das minisséries. Também de características teatrais, foi uma das poucas saídas encontradas por ela para demonstrar todo seu domínio de cena na TV. De produções impecáveis, ela teve um aparato maior para brilhar em trabalhos como Riacho Doce vivendo a enigmática Vovó Manuela e na lúgubre Incidente em Antares.

É neste tipo de trabalho que um grande profissional costuma ter seu talento reconhecido e o mais importante, respeitado pela mídia. Atuar em novelas (ainda mais as de hoje), só serve para fins meramente financeiros e curriculares. Esta é a razão de nomes essenciais para a arte brasileira estarem afastados das telas ultimamente. E convenhamos, é algo que Fernanda e os outros de mesmo talento e respeito conquistados não precisam mais se submeter.

O cinema foi outra poderosa e bem sucedida incursão de sua carreira. Eles não usam black-tie (1981) de Leon Hirszman, apontado como um dos melhores filmes nacionais de todos os tempos e A hora da estrela (1985) são alguns de seus excelentes trabalhos. O reconhecimento de suas belas atuações já ultrapassava fronteiras consagrando-se no Festival de Moscou pelo longa metragem Em família de Paulo Porto. Depois na Itália por Tudo Bem de Arnaldo Jabor. No premiado e concorrente ao Oscar O que é isso companheiro? de Bruno Barreto, também deixou sua marca da estrela. E em 2005, trabalhou em família, ao lado da filha em Casa de areia de Andrucha Waddington.

Mas foi Central do Brasil (1997) de Walter Salles, que sua brilhante trajetória seria merecidamente glorificada. Por sua atuação espetacular no filme, faturou o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim, um dos mais conceituados nas temporadas de premiações, e foi parar no tapete vermelho de Hollywood. O nome de Fernanda Montenegro estava na lista de concorrentes daquele ano e mais tarde, como uma das votantes da Academia. Um orgulho para nós, brasileiros, que testemunhamos o reconhecimento de um dos maiores talentos de nossa arte. Uma atriz tupiniquim brigando de igual pra iguais com as maiores estrelas hollywoodianas, por si só já é sim (por que não?), uma vitória considerável. Ainda mais em tempos em que estamos tão carentes de grandes valores neste sentido.

A estatueta ficou com a insípida Gwyneth Paltrow, provando que nem sempre possuir o maior talento, significa obter o maior reconhecimento. Mas a qual reconhecimento tem que nos referir? Um Oscar poderia emoldar a estante de Fernanda, e talvez até fortalecesse sua vaidade e orgulho. No entanto, o fundamental em toda esta história é o fato de ela ter feito história como a primeira e única brasileira a concorrer ao prêmio máximo do cinema. E esta estatueta nada e nem ninguém pode tirar dela e nem de nós.

A atriz que fez da arte seu palco e sua família parece ter casado com ela literalmente. Uma vida em que seus olhos grandes e expressivos, bem como sua voz modulada, emocionaram e emocionam, cativaram e cativa através de talento, dignidade e, sobretudo, retidão, postura e uma educação que mais bem faz sintetizar o ditado. Respeito não vem dado de graça, e sim, deve-se conquista-lo por ações e merecimento. De tudo isso se faz uma querida dama. De tudo isso se faz Fernanda Montenegro, a mulher que carrega no espírito a essência de Arlete Pinheiro.

quinta-feira, 22 de março de 2012

John Carter (2011)


John Carter, 2011. Dirigido por Andrew Stanton. Com Taylor Kitsch, Lynn Collins, Mark Strong e Willem Dafoe.
Cotação:7.3

Os estúdios Disney resolveram investir pesado em superproduções em CGI, e para começar, colocaram nas mãos de Andrew Stanton, diretor das premiadas animações Wall-E e Procurando Nemo, a história de um ex-combatente da Guerra Civil americana, que por um passe de mágica vai parar em Marte, ou melhor Barsoom, para se tornar um herói.

A primeira impressão é que se trata de um filme de ação meio duro, com um teor de violência mesclado a um humor rasteiro. Porém quando o personagem título John Carter, é levado a um mundo onde tem a capacidade de saltar distâncias incríveis e porta uma força inimaginável, conhecemos a verdadeira essência do longa. Aos poucos a influência das animações da Pixar, permeiam cenas de efeitos visuais deslumbrantes e nauseantes sob o efeito do 3D.

A trama gira em torno de uma guerra entre duas cidades marcianas, na qual uma delas é governada pelo tirano Sab Than (Dominique West), que recebe a ajuda de um grupo de entidades, lideradas pelo ator Mark Strong, com interesse tão obscuro quanto sua própria origem. Quando o rei da cidade resistente decide casar sua filha, a princesa Dejah (Lynn Collins) com o inimigo para conquistar uma trégua, ela foge e cruza o caminho de Carter, que está sob o domínio de estranhas criaturas verdes, os Tharks. Nesse momento seu destino estará diretamente ligado à sorte de todo o planeta.

O roteiro, adaptado do livro de Edgar Rice Burroughs A Princesa de Marte, mostra uma infinidade de referências aos clássicos Star Wars e o contemporâneo Avatar. Apesar de a obra ser anterior aos filmes citados, o mote estilístico puxa para uma inevitável comparação. Entretanto, o que poucos perceberam é que a maior referência de toda a história é com certeza o épico dirigido com esmero por Stanley Kubrick em 1960, Spartacus. A epopéia vivida por Carter é moldada nos mesmos trilhos do gladiador romano, e tem seu auge quando o cabeludo, banhado por um sangue azul em uma arena, grita aos ventos “I am John Carter”, cópia idêntica da frase dita por Kirk Douglas.

Talvez seja este o problema do filme. Essa infinidade de referências diretas provocam certa insatisfação no público e o empobrecimento do texto. Além é claro do exagero melodramático, entremeado por um humor infantil de personagens esteriotipados (como o cãozinho bizarro e engraçadinho), outra herança das animações. Sendo assim, o filme passa a não ter vida própria, e fica à mercê do aparato visual de qualidade inquestionável, e no capricho da produção dos estúdios Disney.

Taylor Kitsch estréia como protagonista e mostra que ainda precisa se soltar mais e se sai melhor quando é o humano rebelde e meio paranóico. Entre os demais atores destaque para Mark Strong, que se sobressai como o vilão careca Matai Shang, e Willem Dafoe, irreconhecível por trás dos efeitos de captação de movimentos, interpretando o lider dos Tharks, Tars Tharkas.

Um blockbuster que pegará o público pelo seu poder hipnotizante, amplificado pelo 3D, mas que ficou abaixo do esperado, ainda mais quando se sabe o que os roteiristas da Disney são capazes de fazer, principalmente em suas animações.

terça-feira, 20 de março de 2012

Indicados ao 1º Prêmio Forrest de Cinema



Adoro as premiações, então por isso lanço este ano o Prêmio Forrest de cinema, onde indico, de acordo com a análise que, junto com meus colaboradores, fiz dos filmes que foram lançados no Brasil de março de 2011 a março de 2012. Para que o blog não corra o risco de cometer gafes, as categorias presentes são apenas às quais tivemos total capacidade de analisar. Por isso, som, mixagem de som, figurino, maquiagem, efeitos visuais, trilha sonora e canção ficaram fora.
Nossa intenção é fazer uma eleição democrática, sendo que você leitor votará em seu predileto. A votação iniciará nesta terça-feira, dia 20 de março, e se estenderá até o dia 13 de abril. Os resultados serão divulgados no dia 15. Desde já agradeço a participação.
Qualquer opinião poderá ser expressa no espaço destinado aos comentários.
Está aí a lista e ao lado da página principal a enquete para os votos:

MELHOR FILME:

O Artista
Os Descendentes
A Invenção de Hugo Cabret
Meia-Noite em Paris
A Árvore da Vida

MELHOR DIRETOR

Alexander Payne – Os Descendentes
Asghar Fahadi – A Separação
Martin Scorcesse – A Invenção de Hugo Cabret
Michel Hazanavicius – O Artista
Stephen Daldry – Tão Forte e Tão Perto

MELHOR ATOR

Brad Pitt – O Homem que Mudou o Jogo
George Clooney – Os Descendentes
Leonardo DiCaprio – J. Edgar
Jean Dujardin – O Artista
Ryan Gosling – Drive

MELHOR ATRIZ

Kirsten Dunst – Melancolia
Meryl Streep – A Dama de Ferro
Michelle Willians – Sete Dias com Merylin
Tilda Swinton – Precisamos Falar Sobre o Kevin
Viola Davis – Histórias Cruzadas

MELHOR ATOR COADJUVANTE

Albert Brooks – Drive
Kenneth Branagh – Sete Dias com Marilyn
Christopher Plummer – Toda a Forma de Amor
Max Von Sydow – Tão Forte e Tão Perto
Brad Pitt – A Árvore da Vida

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE

Berenice Bejo – O Artista
Jéssica Chastain – Histórias Cruzadas
Judi Denchi – J. Edgar
Shailenne Woodley – Os Descendentes
Octavia Spencer – Histórias Cruzadas


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

50 %
O Artista
A Árvore da Vida
Meia-Noite em Paris
A Separação

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

Os Descendentes
A Invenção de Hugo Cabret
O Espião que Sabia Demais
O Homem que Mudou o Jogo
Tão Forte e Tão Perto

MELHOR MONTAGEM

O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Os Homens que Não Amavam as Mulheres
Cavalo de Guerra
Tão Forte e Tão Perto

MELHOR FOTOGRAFIA

A Árvore da Vida
O Artista
Cavalo de Guerra
A Invenção de Hugo Cabret
O Espião que Sabia Demais


MELHOR FILME ESTRANGEIRO

A Pele que Habito
O Garoto da Bicicleta
O Cavalo de Turim
A Separação
O Porto

MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO

Happy Feet 2
Rango
As Aventuras de Tintim
Rio
Kung Fu Panda 2


ATOR REVELAÇÃO (Primeiro papel de destaque)

Asa Butterfield (A Invenção de Hugo Cabret)
Tom Hardy (Guerreiro; O Espião que Sabia Demais)
Erza Miller (Precisamos Falar Sobre o Kevin)
Thomas Horn (Tão Forte e Tão Perto)
Bennedict Cumberbatch (Cavalo de Guerra; O Espião que Sabia Demais)


ATRIZ REVELAÇÃO (Primeiro papel de destaque)

Chloe Moretz (A Invenção de Hugo Cabret)
Rooney Mara (Os Homens que Não Amavam as Mulheres)
Liana Liberato (Confiar)
Melissa McCarthy (Missão Madrinha de Casamento)
Sareh Bayat (A Separação)

MELHOR FILME NACIONAL

Bróder
Meu País
O Palhaço
O Homem do Futuro
Canções


sexta-feira, 16 de março de 2012

Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011)


The Girl with the Dragon Tatoo, 2011. Dirigido por David Fincher. Com Rooney Mara, Daniel Craig, Christopher Plummer, Robin Wrigth Penn.
Cotação: 8.0

Adaptar uma obra de grande sucesso é um desafio que poucos profissionais aceitam enfrentar, pois os riscos sérios de comparações tiram a legitimidade e dependendo do rumo que tomar, o brilho de suas produções.

Ficou a cargo do talentoso David Fincher a refilmagem americana do sueco Millennium – os homens que não amavam as mulheres. Sucesso de crítica em seu país, o excelente suspense baseado no best-seller de Stieg Larsson, virou febre mundial devido às características humanas e objetivas de ambas as formas.

De posse de um material tão promissor, Fincher quis mudar algumas características do original, para assim tentar evitar uma inevitável comparação com a obra sueca. Contudo, quando se trata de uma obra com tamanha magnitude, você tem dois caminhos a seguir e ambos te levarão a um beco sem saída de críticas e comparações. Assim se fez.

Vencedor do Oscar de melhor montagem, Millenium – os homens que não amavam as mulheres traz o jornalista investigativo Mikael Blomkvist (Daniel Craig) a beira de uma desmoralização profissional e prisão eminente até aceitar um trabalho que mudará os rumos de sua vida e de sua carreira. Ele é contratado por um poderoso industrial na Suécia Herik Vanger (Christopher Plummer) para descobrir o que de fato teria acontecido com sua amada sobrinha Hariet (Mathilda Van Essen). Mas logo Blomkvist percebe que não está sozinho em sua empreitada. Ele recebe a ajuda de um habilidoso hacker punk-feminista Lisbeth Salander (Rooney Mara), que também por motivos de trabalho, tem consigo todas as informações de seu computador pessoal envolvendo o caso. Juntos, a dupla, que se torna um casal de investigadores consegue desvendar o mistério por detrás do desaparecimento da jovem.

Se esquecermos da produção sueca, tomamos certeza da quão confusa se tornou a direção de objetivos imposta por Fincher. Para começar ele tenta - como não poderia deixar de ser - mudar algumas características dos elementos capitais em seu longa. Até aí tudo bem, afinal, os fins devem justificar os meios tratando-se de uma adaptação. Mas, é justamente neste ponto que ele peca demais. Aqui vemos um filme de suspense que teria tudo para ser um grande sucesso de crítica como seu coirmão se não fosse pelo roteiro rocambolesco que traz mais perguntas do que respostas. Recheadas de clichês básicos, a trama substitui cenas subjetivas por extensas e explicadas demais, levando a impugnação do desafio de pensar do espectador, minimizando o fascínio da fórmula deste tipo de thriller. Aliadas a textos pobres e tão frios quanto o Norte escandinavo.

Mas nada se compara ao que o diretor propõe a fazer com os personagens. Fincher descaracteriza os heróis ao inverter seus papéis na história. Como no título original, Lisbeth Salander é a figura principal da história. Uma mulher embrutecida pela dor causada pelos homens, de onde se oriunda toda sua força, dotada de grande inteligência e de uma perspicácia instigante. Ao transformá-la numa mulher estereotipada, frágil, carente e apaixonada por seu herói, o diretor coloca o personagem masculino como o centro de toda trama, mutilando a relevância e por consequência uma melhor atuação da indicada ao Oscar Rooney Mara na versão americana. Nem mesmo nas cenas de maior impacto de sua personagem a atriz, visivelmente prejudicada pela direção, consegue passar uma veracidade no seu sofrimento. Sua participação na resolução do caso a mostra como uma valiosa, mas mesmo assim, assistente do herói.

Nem mesmo foi dela a autoria da pista principal para resolução do mistério. Um equívoco que é enfatizado cronicamente na cena de sexo entre os personagens quando Lisbeth se torna submissa ao charme e a força de Blomkvist. Ou seja, de heroína, ela passa a uma simples Bond girl. Ao compararmos com o da versão sueca é a personagem feminina que está literalmente por cima, ou seja, tomando para si o controle e as rédeas da situação. Uma situação incômoda que podemos observar até em coisas triviais como o tamanho da fotografia de Hariet Vanger.

Enquanto a versão sueca mostra a bela jovem de traços expressivos em quase todas as passagens envolvendo o caso, na versão americana temos uma fotografia minúscula de uma jovem frágil e inexpressiva que aparece uma ou duas vezes na trama. Temos, portanto, um caso típico de Hollywood da superioridade masculina nos filmes de ação. Deve ser esta a razão pela qual é possível observar que Fincher se valeu da persona tão bem encarnada por Graig nos últimos anos. Em alguns momentos deslumbramos traços de 007 em sua atuação. O herói que tudo sabe, que tudo vê, forte e galante que leva todas as personagens femininas para a cama.

Por aceitar o desafio de adaptar uma obra já consagrada, o talentoso David Fincher ganha muitos pontos pela coragem. Contudo, ao se valer de todo o pragmatismo hollywoodiano, o diretor deixou muito a desejar na execução de seu filme. Um suspense de cenas marcadas, atuações fracas e a desvalorização excessiva da figura feminina. Uma pena para um diretor acostumado a nos brindar com produções como O curioso caso de Benjamim Button e A rede social. Com seu Millenium, Fincher revelou-se o verdadeiro homem que não amou as mulheres.    

quarta-feira, 14 de março de 2012

Cada um tem a gêmea que merece (2012)


Jack and Jill, 2012. Dirigido por Denis Dugan. Com Adam Sandler, Al Pacino e Kate Holmes.Cotação: 5.5
A comédia é um gênero carente de bons roteiros, que tenham um fundamento no mínimo digno para explicar sequências bizarras e absurdas. Talvez por isso Missão Madrinha de Casamento tenha feito tanto sucesso de público e crítica, além de ter conseguido uma indicação ao Oscar de roteiro. Mas a maioria é como Cada um Tem a Gêmea que Merece, nova parceria entre Adam Sandler e o diretor Denis Dugan que apresenta um argumento ridículo, com o protagonista fazendo dois personagens, e ainda conta a participação de Al Pacino, e uma ponta do excêntrico Johnny Deep.


A trama gira em torno de Jack, um publicitário que recebe a terrível visita de sua gêmea Jill para o feriado de ação de graças, e decide não ir embora, levando a família à loucura com seu comportamento nada convencional. Para se livrar do problema, ele decide arrumar um namorado para a irmã, e para sua sorte quem se encanta por ela é Al Pacino. Jack então tenta unir o útil ao agradável, já que arrumará alguém para ficar com a irmã, e conseguirá um astro para seu comercial de rosquinha.


Sendo sensato é impossível pensar que uma história dessas consiga ser bem construída ao ponto de o filme se tornar interessante. As situações passam de absurdas a inaceitáveis a cada minuto em que a película avança. Como se não bastasse, temos de aturar Sandler se passando por mulher, uma missão indigesta. A inserção de gêmeos na abertura e no final do longa, para tentar dar o tom do que se seguiria, além de ter sido dispensável e desinteressante, deixou claro que tudo o que disseram foi pura forçação de barra para que o público aceitasse as bobagens que se seguiriam.


O problema de Sandler é que perdeu a inocência e infantilidade que faziam ser toleráveis suas comédias como O Paizão. Desde que entrou nessa empreitada de construir comédias adultas (Zohan, Esposa de Mentirinha) ou dramáticas (Reine sobre Mim, Tá rindo de Quê) rendeu apenas uma obra interessante, que foi Click, em 2005. Depois disso, seus filmes ficaram cansativos e exageradamente apelativos, com cenas repulsivas, indignas do gênero que Buster Keaton e Charles Chaplin brilhantemente consolidaram na era do cinema mudo. E quando tudo isso não se apresenta, não sobra nada, apenas o enfado do ator.


Estranho foi ver Al Pacino dançando, cantando e se expondo ao constrangimento ao interpretar uma faceta, gagá e ensandecida dele mesmo. A situação deverá deixar os fãs do ator, que já foi o poderoso chefão, muito chateados. Outro que fez uma pontinha foi Johnny Deep trajando uma camisa com estampa de Justin Bieber, que para muitos será o ponto alto do filme. Katie Holmes é inexpressiva como sempre e Adam Sandler orquestra tudo da maneira mais estúpida possível.


Quem se divertir com essa comédia será por que já está acostumado a agradar-se de qualquer coisa, ou por que estava esperando algo muito pior do que a premissa foi capaz de passar. Ou simplesmente por ter o senso crítico pouco exigente mesmo.

terça-feira, 13 de março de 2012

Margareth "Streep" Tatcher x Merilyn "Willians" Monroe

Meryl, Margareth, Michelle e Marilyn poderiam ser apenas quatro aleatórios substantivos próprios de mulheres se não denominassem quatro exemplos femininos extraordinários de força e talento.

Marcada por ótimas interpretações ao longo da carreira e consequentemente a atriz com maior número de indicações na história do Oscar, Meryl Streep é do tipo raro que nunca deixa órfãos os fãs de interpretações mágicas. Todo projeto que tem seu nome em frente aos letreiros na certa é sinal de sucesso. E este sucesso a leva diretamente à lista de candidatas a vários prêmios. Desde que iniciou sua brilhante carreira nas telas em 1977 no telefilme Temporada mortal, a atriz tem demonstrado uma regularidade que impressiona tanto o público quanto a crítica. Através de um refinado e sutil jogo de expressões físicas, o rosto delicado e o domínio das técnicas de representação, Streep reforça a cada ano a ideia de que para ser uma atriz completa é necessário ter um talento nato.


Algo que parece redundante, mas que tem muita relevância nestes tempos de efeitos especiais cada vez mais aprimorados e a maquiagem se sobrepondo ao talento do intérprete. Por falar em maquiagem, esta tem sido o alvo de alguns críticos ao seu último trabalho A dama de ferro (The Iron Lady). Dizem ser carregada demais para a caracterização de sua personagem. O que poderia ser seu ponto fraco acaba que tendo o efeito contrário quando só faz reforçar seu notório poder de interpretação. A atriz atropela a maquiagem carregada e segue firme como a maior favorita ao prêmio. Assim, a atriz Meryl Streep faz história bem como a personagem a qual dá vida, a dama de ferro, Margareth Thatcher.

Mulher forte e meticulosa diante das dificuldades similares que seu cargo exigia Margareth Thatcher nunca se deixou abater pelas críticas a seu Governo marcado por diversas polêmicas. A maneira como se impunha perante seus oponentes a caracterizaram como a dama de ferro, ou seja, aquela que regia o país com um braço forte e atitude sólida. Abstendo-nos das polêmicas que envolveram sua administração, o que fica de exemplo para nós, e para as mulheres em geral, é a incrível capacidade que teve de conduzir uma das maiores potências mundial a um progresso inevitável numa década de ataques de grupos terroristas e Guerras mal resolvidas.


Com todo poder que dispusera nas mãos, nunca teve medo de expor suas opiniões perante os mais delicados assuntos e esta coragem a ajudou a abrir caminho num mundo essencialmente machista, tornando-se a primeira mulher a ter um poder político maior que a Rainha. A posição que ocupava fez dela um baluarte da luta feminina, tendo as dificuldades corriqueiras de toda mulher nesta posição. Além das batalhas de cunho profissional, também houve as batalhas pessoais que sempre envolvia sua conservadora família. Assim, Margareth Thatcher foi e sempre será um exemplo de liderança que marcou os anais históricos. Um fato que a coloca na lista das mulheres mais corajosas da história, independente da maquiagem carregada e do monumento capilar inconfundível.

Mais um exemplo de coragem, somos apresentados à outra mulher, ainda menina que cronologicamente rascunha sua história. Mas a julgar pelo fato de ser uma legítima representante de uma minoria de uma época onde jovens estrelas se deixam seduzir pela fama pleiteada por uma beleza exuberante, Michelle Wilhams pode e deve chegar lá. A atriz é daquele tipo de celebridade discreta e bem resolvida na vida pessoal. Mas nem sempre foi assim. Basta lembrar a turbulência que sua vida sofreu com a morte precoce de seu marido, o ator Heath Leadger em Janeiro de 2009. Com uma força de espírito admirável, ele passou a conduzir sua carreira da forma mais interessante possível.


Priorizando seu trabalho como atriz. Naquele mesmo ano, a atriz fez história ao subir no palco para receber o Oscar póstumo de Leadger de melhor ator coadjuvante por Batman- o cavaleiro das trevas. Talvez como um ensaio para um futuro próximo se continuar a trilhar pelo bom caminho da força de sua interpretação. A cada trabalho que realiza, a jovem demonstra uma maturidade extasiante, e aos poucos vai apagando um dos grandes estigmas que afetam jovens atores que participam das populares séries de TV. A afetada Jeniffer de Dawson’s Creek vai se tornando apenas uma lembrança de um passado quase distante.


Este êxito se deve fundamentalmente ao talento da atriz, que merecidamente concorre, pela terceira vez ao Oscar. Agora, seu maior desafio foi viver nada mais, nada menos, que a estrelíssima Marilyn Monroe, com suas caras e bocas (sim senhor!) com toda sua desenvoltura e sensualidade frente às câmeras em Sete dias com Marilyn (My week with Marilyn). Assim, Michelle Wilhams desponta como uma forte candidata a entrar na lista histórica de vencedoras do prêmio da noite mais badalada do cinema.

Musa de todas as noites badaladas do cinema, a exuberante Marilyn Monroe é o maior símbolo sexual da história. Sua estrela se ascendeu tão rapidamente que acabou por sofrer as consequências irreparáveis da fama regalada. Entre um sucesso e outro, sua vida pessoal era regrada a casamentos e divórcios tão abreviados quanto sua carreira. A despeito de todo erotismo, ela sempre passava um ar de ingenuidade insuperável que podemos observar em quase todos seus trabalhos. A boca molhada e entreaberta convidavam todos a uma viagem extasiante de puro deleite aliadas a um carisma perpétuo. Todos embarcavam nestas viagens cinematográficas. Embora tenha conquistado o rótulo que carrega até hoje no filme Torrentes de paixão (1953), foi em O pecado mora ao lado (1955) que conseguiu mais sintetizá-lo ao chocar a sociedade civil e o ultraconservadorismo da censura que pairava o cinema da época. Para os críticos, tudo nela estava exagerado demais. O vestido, que em vão tentava ocultar o corpo escultural, a voz sussurrante como um chamado a indecência, e por fim, o irresistível olhar malicioso.


No entanto, mesmo diante de todo esforço da censura, o filme foi um tremendo sucesso de bilheteria e imortalizou a atriz na mais famosa cena de sua carreira, e talvez do cinema, quando tenta se refrescar sobre as grades de um bueiro. Mesmo a cena sofrendo um corte (podendo ser vista na íntegra no DVD do filme), o que se viu foi um show de ousadia quando sua saia se levanta à altura de sua cabeça, causando tanto escândalo quanto alvoroço em todos que acompanhavam as filmagens. Em 05 de Agosto de 1962, Norma Jean Baker Mortenson saiu de cena de forma trágica. Assim, nasceu e se eternizou Marilyn Monroe. Mulher que se associou ao divino e não teve pudor ou receio de usar seus atributos físicos e pessoais para derrubar os muros da censura que aleijava a arte daqueles tempos difíceis.

Meryl, Margareth, Michelle e Marilyn. Quatro substantivos próprios que representam um poder inegável de profissionalismo e uma força edificante de mulheres no talento e coragem. Cada qual em sua época, em seu campo de arte. Quatro substantivos próprios que souberam marcar seus nomes na história mundial com uma mesma inicial.


Referências:

A Dama de Ferro (2011) ☻☻

Sete Dias com Merilyn ☻☻☻

segunda-feira, 12 de março de 2012

A Dama de Ferro (2011)


The Iron Lady, 2011. Dirigido por Phyllida Boyd. Com Meryl Streep, Jim Broadbent, Olivia Colman.Cotação: 7.5

Falar de um grande nome da história mundial como é Margareth Tatcher é por si só um roteiro fabuloso. Entretanto, assim como é rico o argumento, é também de suma importância a decisão do diretor em enganchar em apenas um segmento da trajetória do personagem. E foi justamente neste aspecto é que Phyllida Boyd deixa a desejar ao transpor para as telonas a vida da Dama de Ferro, pois não direciona a câmera para uma nuance específica da ex-Primeira Ministra britânica. Prejudicando a evolução, e desvalorizando alguns episódios da vida íntima e política de Tatcher.


Desde a primeira sequência é possível observar que a diretora, em sua segunda incursão pelo cinema, optaria por um filme não-linear, buscando valorizar ao máximo o brilhantismo do enredo de vida da premier britânica. Ao montar as histórias de vida e política, tentou criar uma ligação metafórica que caracterizasse as duas Margareths, afunilando a história de forma que os fins justificassem os meios. E fica evidente também que sua inspiração, pelo menos a que vem de cara, seria Iris (2001), de Richard Eyre.

Entretanto A Dama de Ferro peca justamente onde cintila o roteiro do próprio Eyre em parceria com Charles Wood, pois não se compromete em direcionar o público para um característica inerente de Tatcher. Tenta englobar toda sua carreira polêmica e ululante, juntamente com a vida familiar e ausente, deixando fatos importantíssimos como o momento crucial da Guerra das Malvinas parecendo um esquete de uma série dramática de TV. Já Iris se apega no espírito de “mulher à frente de seu tempo” da escritora título do longa, através da visão de seu apaixonado marido. Condensando e valorizando os principais episódios da vida da personagem.

Apesar de tudo, Meryl Streep não sente a superficialidade e empresta o seu talento, de reconhecimento tão enorme quanto os feitos de Tatcher, para levar o público a conhecer, ao menos em detalhes físicos e comportamentais, a Dama britânica. Uma atuação antológica (mais uma) que merecidamente lhe deu seu terceiro Oscar. Ao seu lado trouxe um sempre competente Jim Broadbent, que sentiu na falta de uma decisão do roteiro, uma relevância maior para seu personagem.


Depois de ter feito um bom trabalho em Mamma Mia (2009), a diretora tem crédito para seguir no cinema, e com certeza tirou um aprendizado importante no meio cinematográfico: Mesmo dentro de histórias fantásticas, tem de se procurar um ponto de partida.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Cinema e Cinema


Há muito o cinema tem atravessado por eras e eras como uma das melhores contribuições para a história da humanidade. Seja como a fábrica de sonhos bem arquitetada para nossa fuga, ou o choque fortuito de nossa realidade. Não importa a jornada pelas telas, mas sim o destino que é alcançar o coração de cada pessoa. É o quanto e como ele contribui para esta caminhada individual. E que tipo de escolha nos leva a seguir por ela. O mero ocaso do entretenimento ou a apreciação extasiante de uma obra mais profunda.

A revista Monet de janeiro levantou uma questão que permeou os arredores do Oscar deste ano. Intitulada A Horcrux é o Oscar, a coluna Cinemateca de autoria do renomado crítico Rubens, sintetizava a importância cinematográfica da maior saga da história e lamentou que a franquia Harry Potter nunca tivesse sido premiada em nenhuma das categorias as quais disputara durante todos estes exasperantes anos. Certamente seu clamor foi engrossado por milhões de fãs de varinha em punho por todo o mundo. Tomem nota: FÃS de todo mundo!

O fato de a franquia ter passado em branco não chega a ser uma das grandes injustiças da premiação. Não para quem abdica de seu lado fanático e distingue com lucidez a diferença entre cinema comercial e cinema de arte. Desde sua estreia bombástica, os filmes de Harry e Cia. sofreram uma considerável queda de qualidade na história por conta de problemas fora das telas. A constante troca de diretor e produtor de um filme para outro impediu que conquistasse o status de cinema-arte e caminhasse cegamente para o cinema-comercial. Lamentavelmente na melhor fase da história, quando Harry Potter já se tornara um mito. Desde A Ordem da Fênix, o filme que selaria a passagem para a fase mais madura do herói, a saga se perdeu, recebendo críticas lúcidas de quem se compromete com o cinema-arte.

Ainda em sua coluna, Rubens faz uma comparação descabida da franquia com a trilogia O Senhor dos Anéis. Ele ressalta, entre um parágrafo e outro, uma possível injustiça com a franquia torcendo por uma reparação da Academia neste ano. A mesma injustiça sofrida por Peter Jackson anos atrás, segundo ele. Difícil absorver esta teoria, uma vez que não é possível encontrar essa tal injustiça numa trilogia que bateu recordes de bilheteria e recebeu 17 Oscar em seu total. Um reconhecimento notório a quem se preocupou em fazer um trabalho impecável conciliando magistralmente o cinema-comercial com o cinema-arte. Ao contrário dos inúmeros produtores de Harry Potter, Jackson colocou sua paixão de fã e a mesclou com seu talento, transformando pedra bruta em um lindo diamante no final. A decisão de gravar a trilogia em um único filme e desmembrá-la posteriormente em três belíssimas sequências foi uma prova do comprometimento de quem optou em conseguir mais que milhões de dólares. Algo que os produtores de Harry Potter deveriam ter pensado a fim elevar a qualidade da obra. Assim, evitariam o choro e o ranger de dentes, por parte dos fãs e dos críticos fanáticos em época de Oscar.

O Oscar também foi assunto na SCI-FI NEWS há um tempo. Nela, a colunista Silvia Penhalbel levantou a bandeira dos filmes do gênero, cujo único objetivo é entreter e nos hipnotizar com seus efeitos visuais. Em sua coluna O X da Questão intitulada "E o Oscar vai para... Quem?", a jornalista lamenta a falta de espaço dada pela Academia aos filmes do gênero em categorias mais relevantes. Tentando salientar o descaso com a ficção e seus afins, Silvia acaba que menosprezando a festa mais importante do mundo do cinema. Um coro infundado de revolta de quem ainda não se deu conta da relevância dos aspectos da premiação. A característica dramática da festa tira de forma acertada todo o foco de produções comerciais, premiando devidamente quem não se vale das graças tecnológicas e usa seu talento nu para imortalizar uma obra.

O cinema-comercial bem como o cinema-arte está na ideia e na execução de tal feito. Se você pensar em takes com a intenção toda voltada para um sucesso instantâneo nas bilheterias, você terá em sua execução, a comercialização de ideias de forma meramente lucrativa. Agora, uma vez voltadas para algo maior e mais profundo que o simples entretenimento, suas ideias darão uma ênfase sublime ao caráter do cinema-arte. Esta é a parte que conta para a Academia e seu famoso Oscar. Sendo assim, qual seria a razão da maior bilheteria da história (Avatar), ter perdido o Oscar de Melhor filme para o tenso e emblemático Guerra ao terror? Por que os azulões de James Cameron sucumbiram à artilharia de Katherine Bigerlow? A resposta está na enumeração das características (sic) “oscarizáveis”. Enquanto o filme de Cameron se perdeu em efeitos digitalizados numa base de roteiro fraco, previsível e até certo ponto piegas, Bigerlow tratou de forma crua um tema mais condizente com a realidade emaranhada na humanização de seus personagens, vencendo assim a batalha contra o ex-marido, levando para casa o único Oscar de melhor diretor dado a uma mulher. Detalhe: no Dia Internacional dedicado à mulher!

A Horcrux não é o Oscar. A Horcrux é a forma que nos impede de absorver e distinguir as características de cinema e cinema. De saber o que é feito para faturar e o que é feito para apreciar bem como o papel do Oscar nesta história toda. De saber o que digerir nesta mesa de sonhos e realidade que o cinema nos oferece a cada ano. Sempre há espaço para todos. Para os que querem só comida, os que querem diversão e arte. Os que comem pipoca ou tomam champanhe. O caminho está aberto para esta deliciosa jornada, porém, é imprescindível aprender a conviver com a indigestão ou a ressaca do dia seguinte. Um conceito tão simples quanto à diferença entre ver um filme e assistir a cinema.


E O Artista cantou na chuva

A vitória do filme de Michel Hazanavicius foi a vitória do verdadeiro espírito cinematográfico dantes ofuscado pelas maravilhas do 3D e etc. Foi uma vitória em cima das críticas irracionais, que inexplicavelmente desmereceram um trabalho impecável voltado para a mais pura essência do cinema. Foi uma vitória em cima de coisas tipo “está tão fora de moda como vedetes e seus umbigos”, ou “o filme não teve uma boa bilheteria” ou mais ainda “Dujardin provavelmente não fará outra coisa”. Toda frase ou referência que faziam do filme sintomaticamente era acompanhada de teimosas reticências. Esta proporção de argumentos pejorativos nos leva a acreditar piamente que alguns críticos de renome não entenderam o que o vencedor do Oscar quis passar. Especialmente para eles. Uma vez que atingir um público hipnotizado por efeitos visuais seria uma tarefa quase impossível.


Já eles sim, teriam a obrigação de entender o espírito de O Artista. Porém preferiram se isolar numa ilha de preconceito infundado a respeito de um filme que só pela ousadia, já mereceria um Oscar. Fizeram de A Invenção de Hugo Cabret uma boia salva vidas e simplesmente ignoraram a beleza do filme de Hazanavicius com um lobby tão negativo que beirou a tolice. Algo que jamais vi na história da premiação. Será que foi o fato de Dujardin não falar inglês fluentemente ou apenas a velha e boa ignorância disfarçada de uma soberba que costuma os acompanhar?

Aos leigos simpatizantes do filme de Scorsese deixo aqui meu sincero respeito pela escolha de gênero, mas não dá para não criticar argumentos fracos e insustentáveis de outros que tiveram apenas a intenção de manchar uma provável vitória do filme de Hazanavicius. Argumentos estes, vindos de críticos de renome que parecem não saber a diferença entre torcer e opinar bem como entre filme e cinema.

quinta-feira, 8 de março de 2012

O Dia da Mulher


É delas a missão de engrandecer a arte cinematográfica pelo mundo. Marilyns, Michelles, Viviens. Todas, com um único propósito de levar emoção aos corações dos fãs e tocar fundo nessas emoções. Estrelas e seus personagens que marcaram e marcam sua história ao lado da história das mulheres em geral. Por elas, o Dia Internacional da Mulher é tão marcante como sinal de liberdade individual, de expressão e força de espírito:

"Estranha paisagem que insiste em permanecer intacta
Ou talvez seja a alma que insiste em não mudar?"
Rose De Witte Bukater (Kate Winslet / Titanic)

"Um quarto bem definido em suas formas, amplo e claro
Paredes que nunca respondem aos apelos
E um silêncio sepulcral que antes torturava"
Blanche Dubois (Vivien Leigh / Uma rua chamada pecado)

"Acostuma-se com a solidão
Assim como se pede aplausos e reconhecimento"
Margo Channing (Bette Davis / A malvada)

"Quadros que nada dizem
Perfume de mulher rompendo o ar inerte"
Donna (Gabrielle Anwar / Perfume de mulher)

"Milhares de pensamentos confusos
E o desejo de prosseguir"
Bella Swann (Kristen Stewart / Crepúsculo)

"Alma feminina que sonha e redescobre o óbvio
Guardou-se temporariamente o encanto
Adormeceram sonhos e palavras"
Nina (Natalie Portman / Cisne negro)

"Um caminho de pedras trilhado pela insegurança
A destituição de certezas, o receio do que há de vir
Ocultou-se a menina, acordou a mulher!"
Scarlett O ’Hara (Vivien Leigh / E o vento levou)

"Seu coração bate descompassado
Mente... Porque ainda vivo
Almeja todos os sentimentos que fizeram
Pulsar em busca da vida"
Holly Colightly (Audrey Hepburn / Bonequinha de luxo)

"Um ar feminino de fortaleza recriada e endurecida
Repleta de sonhos, perdida
Entregue a tudo que sente na luta incessante
E ardente de emoções que a sustente"
Tenente Ripley (Sigourney Weaver / Alien)

"Coragem, olhar de valente
Contraste do colo que pede
Por muitas vezes ausente"
Clarice Starling (Jodie Foster / O silêncio dos inocentes)

"Aprende que nem sempre está presente o amor
Que se estabelece nas juras, nos sonhos e promessas
Não restam nem mesmo as lembranças"
Vivian Ward (Julia Roberts / Uma linda mulher)

"O ritmo desordenado que impomos a vida
Nos leva a esquecer de sentimentos
Negar o que tanto almejamos
Como a flor que seca, petrifica também a alma"
Miranda Priestly (Meryl Streep /O diabo veste Prada)

"Se as lágrimas caem como chuva
Já não há mais terreno fértil, nem sementes
Só se consegue a lama úmida causada pelo abandono e descaso"
Celi (Woopi Goldberg / A cor púrpura)

"Alma feminina, guerreira, sonhadora e incorrigível
Ergue-se como átimo
Se desperta, move-se"
Bridget Jones (Renée Zellweger / O diário de Bridget Jones)

"Se a paisagem não se movimenta
Transformar-se-á em luz."
Irmã Maria (Julie Andrews / A noviça rebelde)

Trechos retirados do texto
“Poética da resistência feminina” de autoria desconhecida


quarta-feira, 7 de março de 2012

A Invenção de Hugo Cabret (2011)


Hugo, 2011. Dirigido por Martin Scorcesse. Com Asa Butterfield, Bem Kingsley, Sacha Baron Cohen, Christopher Lee, Chloe Moretz e Jude Law.Nota: 9.1

Quando se pensa em um filme de Martin Scorcesse vem logo à cabeça seus inúmeros feitos, como o áspero Taxi Driver (76), o arrebatador Touro Indomável (81), considerado por muitos seu melhor filme e Os Infiltrados (06), que lhe deu o único Oscar de por direção. Entretanto o seu A Invenção de Hugo Cabret abandona a violência e a tensão de sua filmografia, e cria uma relação sublime entre emoção e arte, além de fazer uma justa homenagem a um dos pioneiros do cinema.




O filme conta a história do jovem Hugo Cabret (Asa Butterfield), um órfão que mora no relógio da estação de trem da Paris da década de 20. Sua única companhia é um andróide que seu pai havia encontrado em um museu e não conseguiu terminar de consertar. Quando o menino termina o conserto com a ajuda da inteligente Isabelle (Chloe Moretz), descobre que o robô reproduz uma mensagem que mudará não só vida, mas como a de muitas pessoas à sua volta.


A adaptação feita por John Logan, com a ajuda do autor do livro homônimo Brian Selzenick, descendente do lendário produtor David O. Salzenick, é brilhante. Sob a batuta de Scorcesse, somos conduzidos a uma atmosfera aparentemente triste, porém amenizada pela forma como a história é contada. A obsessão de Hugo pelo robô nada mais é que uma forma que encontrou para manter vivo dentro de si o carinho que sentia pelo seu pai. O texto também prima por manter-nos a par das tramas paralelas dos personagens que compõem o dia-a-dia da estação, para que no fim das contas o feito de Hugo tenha ainda mais valor. Quando a ficção se mistura a realidade e introduz Georges Meliès na trama, tudo fica à mercê do modo pelo qual o diretor decide transmitir seu amor pela arte cinematográfica, criando um paralelo entre as histórias.




Mesmo longe de discussões pesadas sobre conduta e dissecações da psique humana, o que é de praxe em suas obras, o diretor mantém o intimismo, e causa uma inevitável aproximação, muito menos angustiante que de costume, do público com o personagem. Cria a possibilidade de refletirmos sobre nossos sonhos e aspirações, sendo inevitável a emoção. A qualidade 3D, novidade na carreira do diretor, é uma mostra clara que a tecnologia nunca vai interromper a criatividade, e sim contribuir para que espetáculos visuais bem empregados tenham um deleite ainda maior em conluio com um roteiro bem amarrado.


Ben Kingsley tem uma atuação digna e honrada como o visionário Meliès, compondo um meio termo entre o amalucado criador do histórico Viagem à Lua (1903), e o deprimido velho vendedor de bugigangas esquecido pelos avanços cinematográficos. Porém, o filme é dos jovens. A Isabelle de Chloe Moretz é adorável apesar do excentrismo comum em pessoas com uma inteligência abastada. Já Asa Butterfield apresenta uma segurança não vista em uma criança desde a ótima atuação de Haley Joel Osment em O Sexto Sentido (99). A maneira como traz diversas facetas emocionais de seu Hugo, sem que crie interferências de representação entre elas, é louvável e deixa a sensação que foi um erro a Academia não ter nem o cogitado a uma indicação ao Oscar.




Terá quem critique Martin Scorcesse com o já conhecido papo furado de que o filme tem muitas pretensões acadêmicas. Entretanto a única pretensão visível no filme é a de provar que a arte pode ser concebida também através da tecnologia. Além de ser uma justa homenagem a um homem que contribuiu para que o cinema pudesse se tornar um veículo de fantasias, em que todo mundo tivesse a oportunidade de visitar a lua à bordo de uma tela.

terça-feira, 6 de março de 2012

Sete dias com Marilyn (2011)

My week with Marilyn, 2011. De Simon curtis. Com Michelle Williams, Kenneth Branagh, Eddie Redmayne e Judi Dench


Nota: 7.7

Quando se fala em Marilyn Monroe, logo um frenesi imediato toma conta de todos ligados ao mundo do cinema. A expectativa é algo que não conseguimos conter por conta do que representa a maior deusa da sétima arte. No entanto, toda expectativa vem sempre acompanhada de uma “faca de dois gumes”, que faz com que entremos num caminho perigoso de avaliações precipitadas e desacertos.

O filme de Simon Curtis baseia-se nas anotações de um diário do aspirante a diretor Colin Clark, que teve o invejável privilégio de trabalhar lado a lado com astros de primeira grandeza como Laurence Olivier e presenciar um encontro cataclísmico entre Vivien Leigh e Marilyn Monroe em um dos sets de filmagem. Um dos poucos que tem história pra contar. E esta história é o carro-chefe de Sete dias com Marilyn, onde o jovem narra sua aventura pessoal e romântica com a estrela nos dias em que esta esteve em Londres.

Vivido pelo fraquinho Eddie Redmayne, Colin Clark consegue realizar seu sonho ao ser contratado como o terceiro assistente de diretor no novo filme de Olivier O príncipe encantado, o qual Marilyn é protagonista. Sendo um rapaz de grande sensibilidade, Colin se aproxima do mito e descobre a mulher. Neste processo, toda sua frustação em não ser uma boa atriz, as desilusões com o casamento, a insegurança e o medo da solidão desnuda Marilyn aos olhos de Colin. Ao mesmo tempo em que sua beleza esfuziante e sua sensualidade ímpar o fascinam.

Noventa e nove minutos foram o suficiente para contar uma história. Não a história de Marilyn Monroe, que induziu erroneamente alguns fãs às salas de projeção. Nem os tumultuados bastidores do filme de Olivier. Aqui nem a estrela e muito menos o astro foram os protagonistas. Ao tratar de um momento específico na vida da atriz sob a ótica de um jovem e apaixonado fã, o filme cumpriu de maneira excelente o que foi proposto. Desde o figurino, a reconstituição da época, os belos cenários de Londres e a sempre segura interpretação do brilhante shakespeariano Kenneth Branagh (Olivier). Um papel sob medida para ele.

Já Michelle Williams merece uma avaliação à parte. A atriz incorporou de forma cintilante - em meio a um bombardeio de flashes - a voz, os trejeitos, as caras e bocas e a sensualidade induzida de Marilyn. Do céu ao inferno, Wilhams reviveu o turbilhão de emoções que povoavam o coração de uma estrela tão complexa. Uma ótima interpretação por fora, e excelente por dentro. O resultado foi um Globo de Ouro e uma justíssima indicação ao Oscar de melhor atriz.

Sete dias com Marilyn é um filme pequeno em sua duração, e grande em sua execução. Uma rara obra em que a beleza e o talento se fundem em personagem e atriz.

sexta-feira, 2 de março de 2012

O ARTISTA QUE CANTA NA CHUVA

Cinema mudo pode estar atualmente fora de moda perante os efeitos ensurdecedores de uma nova era do cinema. No entanto, o que nunca sai de moda é o charme visualmente magnífico deste gênero e a capacidade de um artista em tornar ainda mais magnífico este charme.

Vencedor do Oscar deste ano, O Artista de Michel Hazanavicius conta em preto-e-branco e incrivelmente de forma visual, a trajetória de George Valentim (Jean Dujardin), o mais famoso ator do cinema-mudo no final dos anos 20, que vê sua carreira imergir com o início da era do cinema sonoro. Esta sinopse parte da mesma premissa do brilhante musical Cantando na chuva (1952), mas para na estruturação e no gênero a qual pertence. Enquanto o musical em cores de Gene Kelly se desembocava numa comédia, a ousada película bicolor faz chorar e refletir ao mesmo tempo. Bem verdade que há momentos cômicos relevantes que certamente se tornarão inesquecíveis, mas não são suficientes para descaracterizar a essência dramática da obra.

O francês Jean Dujardin (Também premiado com o Oscar) se mostra um belo (e põe belo nisso!) representante dos áureos tempos de Rodolfo Valentino e Errol Flyn. Tamanho carisma por si só já seria suficiente para elevar o personagem ao status de astro surreal. Mas não só deste atributo de grande significância daqueles tempos se faz Dujardin. Ele recria impecavelmente as múltiplas facetas de seu astro. O canastrão, o romântico, o cômico e o dramático. Uma interpretação versátil que pode lhe render merecidamente o Oscar de Melhor Ator, bem como enfatiza o personagem Al Zimmer (John Godmam) nas pouquíssimas e derradeiras palavras no filme: - “Perfect”.

Muitos afirmam ser mais uma nova versão de Gene Kelly. Outros que se inspirou em Chaplin. Neste caso o mais novo herói do cinema não falado bebera de fontes luminosas. Contudo, não se trata apenas de uma inspiração e sim uma revigorante homenagem. Protagonizando um trabalho lindo, emocionante e ousado, ele nos faz reviver os bons tempos em que um legítimo ator não sucumbia às eras pirotécnicas que mascaram o charme da sétima arte. No filme, o artista George Valentim se recusou a “vender” sua carreira por uma fama instantânea ou pelo conforto que esta posição possa acarretar. Ele acreditava na sua arte. Artistas como ele, são resistentes como Chaplin. O maior astro do cinema mudo de todos os tempos a princípio se recusou a embarcar nesta nova era. E para afirmar sua categórica posição afirmou certa vez: “estão acabando com a arte mais antiga do mundo. Estão arruinando a grande beleza do silêncio.”

Pode até parecer radical este ponto de vista do gênio, mas não há como não ressaltar com grande veemência sua ousadia, que sempre o acompanhou em seus trabalhos, em não abrir mão de seus princípios cinematográficos. Chaplin e Valentim enfatizam que são artistas, não bonecos de porcelana que estampam capas de revistas e comerciais de TV. Artistas que sabem o significado de se fazer a mais pura arte. Representar, dançar, cantar. Por isso, quase sempre andam na contramão do show business. Basta lembrar que o próprio Chaplin realizou Tempos modernos anos depois do fim do cinema mudo quando todos já achavam que seus filmes estavam fora de moda. É a estes artistas que devemos a mágica do cinema que nunca sai de moda. Artistas de um gênero cinematográfico há muito esquecido no tempo e que carregam consigo a ousadia de cantar na chuva maniqueísta destes nossos tempos modernos.

Referências:
O Artista -☻☻☻☻☻
The Artist,2011. Dirigido por Michel Hazanavicius. Com Jean Dujardin, Berenice Bejo, John Goodman, James Cronwell e Malcoln McDowell.

Cantando na Chuva -☻☻☻☻☻
Singing in the rain, 1952. Dirigido por Stanley Donen e Gene Kelly. Com Gene Kelly, Donald O’Connor, Debbie Reynolds e JeanHagen.