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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Ted (2012)


Ted, 2012. Dirigido por Seth MacFarlene. Com Mark Whalberg, Mila Kunis, Seth MacFarlene e Giovanni Ribisi.
Nota: 8.1

Não é de se espantar que o humor pesado e corrosivo deFamily Guy, ou A Família da pesada por aqui, faça tanto sucesso em todos os cantos onde é exibido. Seu criador, Seth MacFarlene, tem criatividade de sobra para expor as peculiaridades de seu país natal na forma dos mais variados deboches. E com essa pegada do politicamente incorreto é que ele estreia nos cinemas com Ted, um estudo de comportamento sobre o amadurecimento e amizade nada convencional, mas incrivelmente competente em sua proposta, recheada de palavrões e escatologias que não incomodam.
Quando criança, John Bennet (Mark Whalberg) sofria por não ter amigos, mas quando ganhou de seus pais o ursinho Ted (voz de MacFarlene) fez sua primeira amizade. O enlace ficou tão forte que ele pediu na noite de Natal que seu companheiro ganhasse vida, e foi o que aconteceu. Vinte e sete anos depois, John agora vive despreocupado com a namorada Lori (Mila Kunis), e o felpudo, agora depravado viciado em drogas e sexo, Ted. Mas ele terá de escolher entre a amizade irresponsável ou a seriedade de um relacionamento.
MacFarlene foi felicíssimo quando escolheu um ser inanimado para ser o catalisador da ideia central do filme, pois assim já assinou um termo de descompromisso com a linha tênue da lucidez, facilitando que o tom da comédia fosse mais aceitável. Mas mesmo em meio a todo o teor áspero e irresponsável em que os protagonistas são conduzidos pelo roteiro, a proposta que fica clara desde os primeiros minutos não se perde, pois Ted é a representação da estagnação de John e sua recusa em encarar uma vida adulta. É como se fossem um só, com a clara dominação do "lado obscuro" da personalidade, mais esperta e consciente dos atos, mesmo que falhos cometidos por John.
Como não poderia faltar, ainda sobra tempo para as zoações, referências a outros programas e personalidades, como a participação especial de Sam J. Jones, que se diverte em uma auto sátira de seu Flash Gordon. A sintonia do filme, a montagem frenética e os efeitos que deixam Ted verossímil fazem com que em pouco tempo de fita nem percebamos que ele se trata de um bizarro urso de pelúcia que fala. O diretor transportou o fantástico mundo dos desenhos animados para as telas de live-action, com direto a trilha sonora característica.
Mark Whalberg consegue ter um bom entrosamento com seu amiguinho digital, mostrando que está melhorando como ator. A belíssima Mila Kunis se sente à vontade, principalmente por já trabalhar com o diretor na série animada (ela dubla Meggie Griffin) e mostra que não é só o rostinho bonito. Giovanni Ribisi é quase irrelevante com o pai afetado que quer Ted para o filho, mas ainda assim se sai bem. Mas MacFarlene, com seu léxico de expressões e números musicais, é o melhor, mesmo só fazendo a voz do brinquedo.
Se não tivesse inventado de enfiar a sub-trama com o personagem de Ribisi no meio da história, o longa teria sido muito melhor. Foi totalmente dispensável e alongou demais a sua duração, provocando certo enfado e deixando o final previsível, destoando da originalidade do contexto. Porém, no geral deixou uma boa impressão, mostrando que crescer é bem mais do que abandonar sua infância, é aprender a conciliá-la com sua maioridade. Uma história absurda e uma grata surpresa.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Milla Jovovich


OS SUPERPODERES DE MILLA JOVOVICH

Modelo, atriz, cantora, estilista. Não é uma mutação genética ou descendente de uma vasta linhagem de ancestrais poderosos. Sim, ela é humana. Com registros de nascimento em 17 de Dezembro de 1975. Então, que poder especial tem esta bela celebridade mundial que tanto mexe com o fascínio de fãs? Por conta disso, resolvemos tentar desvendar um pouco da essência desta mulher tão poderosa quanto sua maior personagem no cinema:

Supervelocidade – de origem soviética, mais precisamente de Kiev (Ucrânia), a menina de olhos verdes esmeralda, logo estrou para a vasta e conhecida lista de mulheres belas de sua terra natal. Aos 7 anos já entrara em outra lista. A de Mulheres mais inesquecíveis do mundo, da Revlon. Aos 13 assinou seu primeiro contrato profissional de modelo, estampando revistas como Vogue e Cosmopolitan. Começava ali sua meteórica trajetória de sucesso.

Visão de raio-X – a vida de modelo ia de vento em popa, mas Milla Natasha Jovovich queria mais. Por isso, sua mãe Galina, uma atriz russa, a levou para a Escola de Artes da Califórnia, onde se formou como a melhor aluna do projeto. Um toque de sedução foi um cartão de visitas bem sugestivo pra quem protagonizou aos 16 anos a continuação do clássico A lagoa Azul. O filme De volta a Lagoa azul (1991) alçou a atriz para a fama, repetindo o papel de protagonista da sexy simbol Brooke Shields da primeira sequência. A beleza e o carisma de Milla foi certamente o fio condutor desta obra mediana, que se tornou cult movie da sessão da tarde. Se dependesse do apuro cinematográfico, talvez sua carreira tivesse ficado à deriva, mas este trabalho foi bem mais especial pra ela. Subsídios que a atriz e seus agentes enxergaram bem mais além dos créditos.

Metamorfose – além de atriz, Milla investiu em outras áreas. Como cantora, gravou dois álbuns. Como estilista, desenhou seu próprio vestido de noiva em 2007 e é sócia de uma grife chamada Jovovich- Hawk, junto com Carmem Hawk. Aliás, ambas foram responsáveis pelo figurino interessante de sua grande personagem em Resident Evil: extinção. Como produtora, assinou a produção executiva de Contatos de quarto grau, filme muito bem recebido pela crítica. Além disso, sua face ainda jovial estampa as principais grifes de cosméticos do mundo. Tudo isso, conciliando as discretíssimas facetas de esposa e mãe.

Superforça – haja fôlego para conseguir conciliar tantos tópicos de vida! Força que provém do mesmo espírito indômito que caracteriza suas personagens no cinema. Tudo começou com a mártir Joana Dar’c, do filme homônimo de Luc Besson em 1999. Com o papel da Santa Guerreira veio à inspiração para a maior delas, a apocalíptica Alice de Resident Evil. A personagem, inserida no cinema para a franquia de maior sucesso adaptado dos games, é o esteio da longevidade da aposta do diretor Paul W. S. Anderson.  Uma espécie de líder da humanidade contra o mundo infestado por zumbis. E como tal, ela possui muitos poderes herdados geneticamente, mas o maior deles talvez seja o leque de princípios e a notória empatia criada frente ao público que vibra toda vez que sai à caça de seus algozes a cada novo capítulo da saga.

Invulnerabilidade – o que torna Milla Jovovich uma estrela querida não está na força da espada de sua querida personagem, nas cambalhotas mirabolantes ou na plástica de pontapés realçados em slow motion. Milla sempre traz consigo a pura essência dos grandes ídolos. Humildade, autenticidade e discrição. Poderes que a tornam invulnerável nesta grande dimensão chamada estrelismo cinematográfico, por onde permeiam astros incautos que se deixam levar pelas armadilhas de uma fama inebriante. Milla é humana, e faz parte de um exército inabalável de exemplos, talento e dedicação a todas as artes. Um exército que nem mesmo as forças apocalípticas são capazes de dizimar.

OUTRAS MULHERES SUPERPODEROSAS DO CINEMA E DA TV:

Seguindo a linha de Alice de Resident Evil, o cinema e a TV sempre foram recheados de mulheres que assim como ela nunca fogem de uma boa batalha, usam de todo charme e botam pra quebrar:     

PRINCESA LEIA (Carrie Fisher)
A linhagem é nobre. Nascida do amor verdadeiro entre o guerreiro Jedi Anakin Skywalker e a Rainha Amidala, foi separada do irmão gêmeo ao nascer. Anos mais tarde, Leia se apresenta como a líder da Força Rebelde contra as forças malignas de seu pai Darth Vader, o grande vilão de Guerra nas estrelas (1977). Sua sagacidade a leva enfrentar inúmeros desafios, sendo o maior deles, devolver a Paz e a Democracia a toda Galáxia.





BUFFY (Sarah Michele Gellar)
Uma entre todas é a escolhida em cada geração para defender o mundo contra as forças das trevas. Bem que Buffy sonhava em ser apenas uma garota normal, mas quando o chamado de seu dever sagrado ecoava a cada episódio de Buffy, a caça-vampiros (1996 – 2003), a loirinha entrava em cena com toda sua força ancestral, que aliada às suas emoções humanas, era imbatível para os mais incríveis adversários.


XENA (Lucy Lawless)
Guerreira em busca de redenção, a vida de Xena nunca foi fácil. Ela conheceu os dois lados da moeda, antes de se tornar uma heroína. Mais do que combater inimigos mitológicos, a protagonista de Xena – a princesa guerreira (1995 – 2001) teve de trilhar os caminhos pelo seu próprio interior para tornar-se uma pessoa melhor. A força de sua espada era uma poderosa arma contra os inimigos de carne e osso e o poder de espírito ajudava a moldar sua história inesquecível.




TENENTE RIPLEY (Sigourney Weaver)
Só o fato de ser a única sobrevivente de um massacre intergaláctico conta em quilômetros luz o tamanho de sua coragem. O tempo todo Ellen Ripley se manteve cercada pelo vazio do espaço sideral, lutando face a face com uma das criaturas mais terríveis do desconhecido universo e nem assim se deixou esmorecer quando teve de retornar a viver seu pesadelo nas sequências impressionantes de Alien.
ÉOWYN (Miranda Otto)
”Não sou um homem!”. A frase proferida pela Princesa de um importante reino da Terra Média mostra o quanto Éowyn queria desafiar as tradições machistas que reprimiam a contribuição física de uma mulher nos campos de batalha. Ela não queria ser apenas mais uma para a coleção de donzelas em perigo dos filmes de fantasia. Assim sendo, não demorou muito para a Dama Branca de Rohan, ser uma das figuras mais destemidas da trilogia O Senhor dos Anéis.


quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Personagens inesquecíveis: Forrest Gump (Tom Hanks)

Filme: Forrest Gump: o contador de histórias (1994)

Em todo o curso da história cinematográfica nenhum personagem conseguiu atingir tantos corações ao mesmo tempo. Forrest (Hanks) é a manifestação da igualdade, a prova que todo mundo tem seu papel na humanidade, mesmo não sendo um ícone social ou possuidor de fortunas. A riqueza do personagem, criado por Winston Groom, consegue cativar o espectador a levantar a cabeça, perceber que seus problemas não são tão difíceis quanto pensa. Essa interpretação espetacular de Hanks, que lhe rendeu seu segundo Oscar de ator, vai morar para sempre no imaginário de quem teve o prazer de assistir ao brilhante filme de Robert Zemeckis. Se você chorar com a ternura de Forrest, não se ache idiota, pois como bem diz o moço: "Idiota é quem faz idiotices", não que vive plenamente.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Johnny & June (2005)

Walk the line, 2005. Dirigido por James Mangold. Com Joaquin Phoenix, Reese Whiterspoom, Robert Parick e Ginnifer Goodwin.

Nota: 8.3

Um filme para ser realmente bom tem de ter atrativos que valham a pena. Pode ser a história, a fotografia, a trilha sonora ou algum contexto que se relacione com a atualidade. Em Johnny & June, James Mangold mostra a trajetória de triunfante, bem como os percalços, de um dos maiores mitos da história do country/rock mundial, um homem que derrotou um poderoso vilão dos cantores da época de ouro, as drogas, mas tudo graças a sua fiel companheira, uma mulher de dotes extraordinários tanto na música, quanto fora dela. E o atrativo principal? A perfeita atuação de Phoenix e Whiterspoom.

Quando Johnny Cash (Joaquin Phoenix, brilhante) toca na serra de uma oficina na prisão Folsom, começa a se lembrar de toda a sua trajetória até atingir aquele momento. Desde sua infância na colheita de algodão com a família no Arkansas, passando pela perda trágica de seu irmão, sua ascensão ao estrelato, a queda frente às drogas e a recuperação graças ao seu grande amor June Carter (Reese Whiterspoom, extraordinária). Um conto de amor, superação e música de vanguarda.

O roteiro escrito pelo próprio Mangold juntamente com Gill Dennis, baseado nas duas biografias de Cash “Man in black” e “Cash: The autobiography”, tem um toque amoroso e sentimental. Conduz os acertos e desacertos do cantor sem a parcialidade comum em cinebiografias. Erra na mão na confecção da parte final, pois a redenção de Johnny poderia ter sido explorada mais, com todo seu apelo em prol dos prisioneiros. A relação de Cash com seu pai (Robert Patrick) é o fio condutor da história, já que tudo o que procurava era uma forma de compensá-lo pela morte de seu irmão. Porém, novamente deixa esse fio escorrer pelas mãos e torna pueril o senso de dever cumprido do “homem de preto” no fim das contas. Mas seu maior acerto veio com os números musicais, perfeitos e cativantes.

Joaquin Phoenix, que chegou a conversar com o próprio cantor antes de sua morte em 2003, parece ter incorporado o seu espírito e voz. Sem ser hiperbólico soube dar o tom certo ao crescente estado de dependência de Cash, além de tudo canta com uma segurança de quem nasceu para o ofício. Tão fantástica quanto o companheiro, Reese Whiterspoom enche cada minuto em que aparece na fita. Do sotaque carregado às interpretações cheias de graça de June Carter, fez jus ao Oscar que recebeu e entrou para lista das melhores atuações de todos os tempos.

Se a obra de Mangold não figura entre uma das melhores cinebiografias e nem entre os temáticos do rock, pode até ser verdade. Mas negá-lo como um tributo delicioso e saudosista ao gênero, e que ostenta duas das melhores atuações de atores que cantam em cena, é um absurdo. Só estes argumentos já faz de Johnny & June um libelo imperdível. 

sábado, 22 de setembro de 2012

Melancolia (2011)


Melancholia, 2011. Dirigido por Lars Von Trier. Com Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg e Kiefer Sutherland.

Nota: 8,0


O Apocalypse e suas reflexões existenciais são o mote deste disaster movie do diretor Von Trier

“A Terra é maligna. Não nos fará falta” “Eu não aguento mais isso”. Frases das duas personagens principais deste thriller interessantíssimo do polêmico diretor Lars Von Trier, retrata muito bem todo teor desta obra intimista. Irmãs que tentam viver e o mais difícil, conviver com o que a vida pode lhes oferecer.

A jovem Justine (Kristen Dunst) se apresenta como uma noiva de espírito frágil e derrotado de uma suntuosa festa de casamento na casa de campo do cunhado John (Kiefer Sutherland). À medida que a festa se desdobra pela noite, Justine tenta demonstrar em vão um estado de espírito que uma festa como esta requer. Sumiços inesperados, beijos gelados no noivo, danças simbióticas com os convidados. Todos seus movimentos apontam para um final evitável. O Apocalypse de sua vida matrimonial.

Do outro lado está Claire (Charlotte Gainsbourg), que assume a postura da irmã sensata, de vida calma e invejável. Uma fortaleza que comprou a obrigação de cuidar da irmã depressiva. A relação de ambas é pautada por diferenças de personalidades aos olhos dos outros, mas semelhantes quanto às questões das crises existenciais. A aparente força de Claire se esvai com a enunciação de um desastre apocalíptico onde um planeta chamado Melancolia está a ponto de colidir com a Terra. O fim parece mesmo inevitável para os personagens, mas não para o filme.

Melancolia é uma obra de reflexão minuciosa, lenta e gradual sobre o significado de nossa existência perante a sociedade e o que é mais fundamental, perante nós mesmos. Os sentimentos amancebados que todos carregamos e que se libertam diante do Apocalypse. Mas o que seria exatamente este fim do mundo? Esta resposta é deixada em aberto pelo brilhante filme de Von Trier que usa a metáfora do poder de destruição do planeta nada amistoso para enfim, elucidar nossos sentimentos.

Como obra cinematográfica é um apuro afresco visual de imagens inesquecíveis como o prelúdio em slow motion de 7 minutos num detalhado resumo do filme. A trilha sonora impecável transcorre para algo apático e melancólico. E esse é o grande trunfo do filme. Passar o que realmente deveria passar. Nada de sequências ou fatos que pudessem contradizer sua essência. A dupla de protagonistas atua numa química fantástica, destacando diálogos tensos em atuações excelentes, especialmente de Kristen Dunst, que sempre foi boa atriz, e que agora teve sua chance de brilhar numa performance formidável. As cenas de sua Justine passaram o que toda boa atriz deve passar a cada trabalho. Veracidade. Nada de choros incessantes, ou incisivas crises dramáticas. Dunst interpretou um ser humano. Desnuda, sem exageros ou caricaturas destrinchou a doença de sua personagem. Não foi a toa que ganhou a Palma de Ouro de Cannes, mas a toa foi esquecida pela Academia.

Alguns podem achar chato. Outros, incompreensível. Mas uma coisa não há como discutir. O poder que tem esta obra diante de nossa finitude frente ao poder da natureza terrena ou do nosso próprio interior. Este sim o ponto desastroso, que dá medo se não for compreendido, como nas palavras de Justine para Claire: “Se você acha que eu tenho medo de um planeta, você é muito boba!”.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O Palhaço (2011)


O Palhaço, 2011. Dirigido por Selton Mello. Com Selton Mello, Paulo José, Fabiana Carla, Tonico Pereira, Álamo Facó, Teuda Bara, Jackson Antunes, Danton Mello e Larissa Manoela.

Nota: 9.3

É muito mais do que a premissa indicava. O Palhaço, escrito e dirigido por Selton Mello, é um verdadeiro espetáculo do início ao fim, trazendo reflexões sobre a vida e a felicidade. Ao lado do veterano, mas ainda competente, Paulo José, o ator/diretor leva o público dos risos às lágrimas, sem grande esforço. Um painel inebriante com grandes referências a grandes mestres do cinema como Fellini  Bergman.

O filme conta a história de Pangaré e Puro Sangue, palhaços interpretados por Benjamim (Selton Mello) e Valdemar (Paulo José), que são a principal atração do Circo Esperança. Apesar do grande dom de fazer o público sorrir, Benjamim não consegue encontrar a própria felicidade, então abandona a trupe em busca do autoconhecimento.

Mello assina o roteiro ao lado de Marcelo Vindicatto, preferindo a singeleza dos pequenos gestos aos diálogos verborrágicos. Ainda acertaram em representar os espetáculos circenses, criando um fio lógico para a formação da crise em que se passava o palhaço do título, além, claro, de trazer diversão para o público. Há uma preocupação em dar o devido espaço aos outros personagens, para que nenhum perdesse o valor familiar para fazer valer a descoberta final de Benjamim.

Pode se dizer que Selton Mello é o filme em toda sua composição. Percebe-se também sua busca de inspiração em grandes mestres para tal feito. Usa muito Fellini para carregar no lirismo, desfila cenas sonoras e bem montadas, fazendo o espectador se aproximar dos sentimentos do personagem da forma mais alegórica possível. E alguns trechos de Bergman, para criar uma espécie de auto retrato, através de simbologias. A procura do Palhaço pela sua felicidade é, de certo modo, a busca do diretor por algo que tenha se perdido em sua trajetória de vida. É como se montasse mais uma peça de um quebra cabeça iniciado em seu debute na direção, o modesto Feliz Natal (2008).

Mas ao contrário de seu longa de estréia, onde o personagem central tinha de enfrentar velhos fantasmas familiares, a viagem de Benjamim e para dentro de se mesmo. O ventilador, a identidade e o sutiã, Selton buscou representar a felicidade e o gozo do personagem, enclausurados em simples elementos, que na verdade não passam de fetiches desesperados e alegóricos. Através dos olhos da pequena Guilhermina, a jovem Larrissa Manoela em ótima atuação, o diretor se insere na história para conduzir o ato final.

Ainda sobrou tempo para Paulo José, mesmo limitado pela fisiologia, desfilar sua classe. E, óbvio, não tem como deixar passar as pequenas, mas belas contribuições de Moacyr Franco e Jorge Loredo (o Zé Bonitinho), que em pouco mais de cinco minutos conseguem deixar mais alegre a obra. Uma pequena homenagem aos grandes palhaços brasileiros.

A única dúvida que o filme deixa é se Selton Mello foi melhor atrás ou em frente às câmeras. Prova a cada trabalho que tem tudo para se tornar um Sean Penn brasileiro, excepcional atuando, competente dirigindo. Fez de um filme de produção humilde, um dos melhores dos últimos anos por aqui. Deixando claro que para se fazer cinema em terras tupiniquins, tem que entender bem do assunto, seja fazendo o público sorrir ou chorar. 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Filme brasileiro no Oscar 2013: O Palhaço


Eu e Mello nas gravações de O Palhaço
Primeiramente gostaría de agradecer os leitores que votaram na enquete e parabenizar os 35% que votaram em O Palhaço como o filme que deveria representar o país no Oscar do ano que vem. O longa de Selton Mello foi escolhido pelo ministério da cultura e agora terá de gonvencer os membros da Academia que tem cacife para estar entre os cinco na noite de 24 de fevereiro. O maior adversário será Intocáveis, representante francês. Entretanto, só de poder estar entre os finalistas será um grande triunfo. Além disso, muitos filmes (inferiores ao brasileiro) já surpreenderam, por que não o nosso? Estamos na torcida. Parabéns Selton Mello e boa sorte. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Resident Evil 5: Retribuição (2012)


Resident evil: retribuition, 2012. Dirigido por Paul W. S. Anderson. Com Mila Jovovich, Sienna Guillry, Shawn Roberts, Li bingbing, Johann Urb e Michelle Rodriguez.
Texto publicado no portal acessa.com em 15/09/12
Nota: 6.0
Há dez anos chegava aos cinemas a adaptação cinematográfica de um dos games mais cultuados de todos os tempos, Resident Evil. Com algumas modificações que desagradaram os fãs mais fervorosos, o longa ainda conseguiu ir bem nas bilheterias e conseguiu sua própria legião de seguidores. Agora, após três sequencias, Resident Evil 5: Retribuição entra em cartaz, em 3D, com ação quase ininterrupta, Mila Jovovic botando para quebrar e, claro, as bizarras criaturas mortas-vivas infestando a tela.
Depois de perder os poderes e enfrentar o poderoso exército da Umbrella Corporation no quarto filme, Alice (Mila Jovovich) se vê prisioneira de Jill Valentine (Sienna Guilory) que está sob controle mental da Rainha Vermelha, a inteligência artificial que comanda a megaempresa. Mas, com a ajuda de seu grande inimigo Wesker (Shawn Roberts), Ada Wong (Li Bingbing) e de outros aliados, como o intrépido Leon Kennedy (Johann Urb) tentará escapar do grande complexo da corporação no extremo norte da Rússia, pois ela é a chave para encontrar uma arma que será a grande salvação do planeta.
Novamente, o roteiro que Paul W. S. Anderson elaborou preza muito pouco pelo senso lógico, e desvirtua em contexto da história iniciada em 2002. Apesar de ter elaborado um universo paralelo ao criado pela Capcom, as referências dos games pipocam na tela, como os cenários e as monstruosidades diversas (como os infectados pelo parasita La Plaga do jogo RE4) com o intuito de encorpar a trama. Poucas palavras saem da boca de Alice que se limita a dar tiros de armas quase infinitas e pontapés que quebram os pescoços de zumbis mais ágeis e vorazes. O estranho de tudo é que ela perdeu os poderes no filme anterior, e se torna uma forçada de barra ela ainda estar tão invencível.
O diretor, que é marido da protagonista, gosta de colocar em cena tudo o que tem à disposição. As câmeras-lentas, a imagem dos projéteis perfurando cérebros e explosões variadas tiveram um upgrade por conta dos efeitos em 3D, mas aos poucos se tornam exageradas demais. E se o público para e observa, muitas cenas são muito parecidas com outras dos filmes anteriores, o que mostra falta de criatividade no mote cinematográfico de Anderson.
Se tivesse dado mais importância aos personagens secundários, como o icônico Leon Kennedy, talvez conseguisse agradar mais os fãs do jogo e ainda ganharia em ação, mas como concentra todos os movimentos em Alice, tudo acaba ficando cansativo. O personagem Rain (Michelle Rodriguez) retornou à saga e mesmo assim não ganhou o tempo e importância suficientes em cena que justificasse o regresso. Em meio a toda truculência, a pequena Becky (Aryana Engineer) é a tentativa do diretor de levar algo parecido com afeto para a trama central, mas que também fica na superficialidade.
Por incrível que pareça, Resident Evil 5: Retribuição ainda é melhor que os dois anteriores e pode dar o gás financeiro que os produtores esperam para encerrar a epopéia apocalíptica no sexto filme. Para os seguidores do longa, já começa a despertar aquele arzinho melancólico pelo fim de uma grande aventura, e para os fãs do jogo começa o alívio pelo fim da tortura que é assistir o universo que tanto adora sofrer mudanças tão incômodas.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Perfil: Marlon Brando


UM BONDE CHAMADO MARLON BRANDO

“Ele é o marco. Há o “antes de Brando” e o “depois de Brando”
Martin Scorsese

Considerado por muitos como o maior ator de todos os tempos, pode-se dizer que Marlon Brando não nasceu para brilhar. Nasceu para chocar, polemizar, provocar. O brilho nestes casos foi apenas uma consequência de sua passagem (ou seria generosa contribuição) pela história da sétima arte. Contar a importância deste mito para o cinema é como escrever um enredo cinematográfico de várias partes ou personagens. James Dean, Elvis Presley e Orson Welles poderiam ser algumas das personas que ajudariam a constituir esta imperecível massa artística.

Um garoto chamado Marlon Brando Júnior. Ele nasceu de uma família calcada na frustação. Sua mãe Dorothy Pennebaker queria ser uma atriz, mas o marido possesivo não a deixou seguir seu sonho. Do fruto deste relacionamento nasceram três rebentos, dois deles se dedicaram a arte dramática. Jocelyn Brando não teve o mesmo sucesso que seu irmão nascido em Omaha no dia 03 de Abril de 1924. Desde cedo, o garoto impetuoso já sabia seu papel no mundo. Expulso da Escola Libertyville High School, logo foi mandado para uma Academia militar de Minnesota. Embora tenha se destacado na turma de teatro, uma tentativa de fuga da mesma, o levou a uma nova expulsão. Mesmo aceito de volta um ano mais tarde, decidiu não dar prosseguimento aos estudos por lá, partindo para Nova Iorque.

Um astro chamado Desejo. Foi no teatro de Nova Iorque, mais precisamente na Broadway, que Brando teve sua grande chance em 1947 na peça Um bonde chamado desejo.  Convidado pelo próprio autor, Tennessee Williams, ele brilhou sob direção de Elia Kazan. O mesmo que seria responsável pela transição segura para o cinema, num dos filmes mais polêmicos e controversos de todos os tempos. Bem ao estilo do ator. Seu inesquecível Stanley Kowalski povoou o imaginário de mulheres e homens da época, sendo até hoje um dos maiores sexy simbol da história. Em 1976 chegou a declarar que já teve experiências homossexuais e que ninguém tinha nada a ver com a sua vida entre quatro paredes. Uma estreia simplesmente arrasadora que o colocou na lista de personas gratas quando o negócio era criar uma fábrica de sucessos nas telas. Logo vieram o revolucionário mexicano Zapata em Viva Zapata! (1952), o lendário Marco Antônio de Júlio César no mesmo ano e um ex-boxeador em Sindicato dos ladrões (1954), que lhe conferiu o primeiro Oscar de melhor ator. Nesta ocasião, o jovem astro compareceu a cerimônia, vestido a rigor e dentro dos padrões legais, só pra constar.


Um ídolo chamado Brando. Como um motoqueiro sexy e rebelde em O selvagem (1953), faria parte de um seleto grupo de jovens rebeldes que arrastavam multidões aos cinemas. Deste grupo permeariam nomes como James Dean e Elvis Presley. Esta fase serviu para inflamar seus ideais além das telas. Ao optar por trabalhos como o filme Queimada! Que mostrava a cruel colonização europeia nas Américas, ele se mostrou um grande ativista nos anos 60, participando incisivamente pela manifestação dos direitos civis e indígenas. Fato que o levou a chocar a cerimônia do Oscar de 1973 quando enviou uma suposta nativa americana em seu lugar para receber a estatueta por O poderoso chefão.


Um amante chamado pecado. Três matrimônios e cinco herdeiros. Esta é a fatura de casos amorosos do deslumbrante ator capaz de provocar casos de amor tão confusos quanto a repercussão de seus filmes. Teve romance com muitas estrelas, mas foi Rita Moreno de Amor, sublime amor (1961) que tentou dar fim a própria vida pelo astro. Na lista de cônjuges estão a indo-britânica Anna Kashfi, a percursora de brigas judicias depois do divórcio. A mexicana Movita Castenada, de quem mandou anular o casamento. E por fim, a taitiana Tarita com quem filmou O grande motim (1962). Como se vê, até na vida pessoal Brando se marca pelas peculiaridades, algo fora do contexto padronizado de Hollywood.

Um ator chamado mito. O garanhão de Uma rua chamado pecado seria o primeiro dos grandes personagens que trilhariam nesta trajetória brilhante sublinhada pelo mitológico Vitto Corleone de O poderoso chefão (1972) e o jornalista amargurado Paul do escandaloso O último tango em paris (1973). Neste tempo, seu poder era tão grandioso que recebeu um dos maiores cachês da história para filmar Superman – o filme (1978). Estima-se que a quantia chegara a 1 milhão de dólares para aparecer poucos minutos na tela. Depois disso, ele ainda teve fôlego para mais um papel marcante de sua história. O assustador Coronel Kurtz de Apocalypse Now (1979), que como ressalta o The Guardian “esse é dos papéis crepusculares de brando, uma criatura infeliz nas trevas”.


Um homem chamado conflito. Se o sucesso conquistado nas telas lhe trazia fama e idolatria, a vida pessoal era marcada pelas polêmicas tragédias. A mãe morrera vítima do alcoolismo. Seu filho Cristian se envolveu num julgamento público pelo assassinato do namorado da irmã Cheyenne, que deprimida se suicida anos mais tarde. Sua Ilha particular no Taiti comprada em sua fase Cidadão Kane fora devastada por um furacão. Tudo em sua vida naquele instante se encaminhava para um triste desfecho. Engordou assustadoramente quando em 1990 filmou ao lado de Mathew Broderick The freshman, que classificou como uma experiência desagradável.
Um bonde chamado Marlon Brando. O garoto rebelde, que se tornou naturalmente um sexy simbol, inspirou várias gerações, amou de forma intensa e conturbada, marcou seu nome com talento na calçada da fama e soube administrar com muita personalidade sua vida profissional em meio a dramas e tragédias. Por tudo isso, podemos afirmar que em 1 de Julho de 2004, o cinema não perdeu um astro. Ele ganhou um mito. Tão audaz e imprevisível como um bonde, capaz de atropelar convenções, estabelecer um paradigma e consolidar a mais pura arte dentro e fora das telas.

sábado, 15 de setembro de 2012

Shame (2012)


Shame, 2012. Dirigido por Steve McQueen. Com Michael Fassbender, Carey Mulligan e James Badge Dale.

Nota: 9.2

Logo nas primeiras cenas de Shame percebemos que não se trata de um filme comum, e muito menos que é um trabalho de um diretor “viciado”, daqueles que seguem uma espécie de manual para conduzir um longa. Em seu segundo trabalho Steve McQueen, homônimo do consagrado ator “cool” americano morto em 1980, artista plástico conhecido em seu país mantém a pegada que o tornou famoso em Hunger (08) neste drama psicológico que contempla imagens degradantes, voyeurismo e sexo em seu mais puro descontrole. Novamente ao lado de Michael Fassbender.

O filme conta a história de Brandon (Fassbender, brilhante), que é bem sucedido no trabalho e mora sozinho em um apartamento de luxo no centro de Nova York. Tem grandes problemas em se relacionar com as pessoas e possui um incontrolável vício em sexo, que o leva aos submundos da prostituição e a sites de conteúdo repulsivo. Toda a estabilidade que tem com a situação é colocada em xeque quando sua irmã Sissy (Carey Mulligan, ótima) vai morar com ele, e o pior, precisa de seu apoio.

O roteiro escrito pelo próprio McQueen junto com Abi Morgan logo nos remete ao último filme de Stanley Kubrick, De olhos bem fechados (97), porém é muito mais incisivo e com um dilema moral mais profundo. Logicamente a forma que Kubrick usou para se referir ao sexo, puxando pelo lado da infidelidade latente, mas não comprovada, se apega mais ao campo da psique solo do personagem de Tom Cruise. Neste Shame, a degeneração que Brandon sofre, e sabe disso, o que justifica a escolha do título, confronta com a instabilidade que sua irmã está passando, aumentando o grau de desespero da situação.

Fica bem claro que o problema de Brandon o deixa em um limite absolutamente perigoso, e nas entrelinhas é pontuado pela tensão sexual incestuosa entre ele e Sissy. O diretor opta por inserir as cenas de sexo mais impactantes quando a doença do personagem atinge o nível incontrolável, e são sequências que não abrem mão da classe e a poesia que se mantém constante desde o início o filme. Até o voraz ménage-a-trois não escamba para a vulgaridade porque McQueen faz com que o público se prenda às sensações do protagonista, ficando o sexo no segundo plano. Tudo conduzido por uma fotografia obscura e trilha sonora melancólica para acompanhar sequências longas e silenciosas.

Um filme brilhante e subestimado pela Academia, tanto quanto as atuações excelentes de Fassbender, verossímil nas cenas de sofrimento sexual de seu personagem, e Mulligan, que mergulha na agonia incessante de Sissy. É o cult movie do ano, que sem querer (ou não) mostrou o que poderia ter sido feito na obra mediana de Kubrick, e também que falar de sexo no cinema não pode ser tabu, e muito menos um amontoado de monótonas cenas libidinosas e sem sentido concreto.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Filme brasileiro no Oscar 2013

Está previsto para acontecer no próximo dia vinte de setembro a escolha do filme que irá representar o Brasil no Oscar 2013. Para estar apto a concorrer ao menos a estatueta de melhor filme estrangeiro, a produção tem de ter sido exibida nos cinemas de 01 de outubro de 2011 a 30 de setembro de 2012, permanecendo em cartaz por no mínimo sete dias. As inscrições já foram recebidas e o Cineposforrest mostra quais seriam as melhores opções para buscar a indicação na categoria, que não acontece desde 1998 com Central do Brasil, de Walter Salles. 

Na enquete ao lado vote em quem você acha que deve representar o país no Oscar 2013.

O Palhaço

O filme de Selton Mello brinca com influências de mestres como Fellini, e tem uma direção segura. Pode agradar a Academia pela qualidade do texto e pelo seu tema, uma viagem de um homem dentro de si mesmo. O mote cômico e a atuação de Mello também são trunfos, porém por ter estreado ainda em 2011, já caiu um pouco no esquecimento, o que dificulta as coisas (vide Tropa de Elite 2).



Heleno

O filme de José Henrique Fonseca foi uma grata surpresa de 2012 e mostra de maneira sensata a carreira do ex-jogador de futebol Heleno de Freitas. Com uma fotografia impecável em preto-e-branco de Walter Carvalho, o filme ainda conta com a melhor atuação da carreira de Rodrigo Santoro, o que pode alavancar as chances do longa já que o ator está em evolução no cenário hollywoodiano. Seu único problema é o roteiro que às vezes apela a alguns clichês, mesmo que poucos.



Xingu

Apesar de ter recebido críticas medianas, o diretor Cao Hamburguer fez um trabalho competente e conta com a estética excelente das regiões amazônicas. Além de ter atuações muito boas de João Miguel e Caio Blat, a história verídica dos irmãos Villa-Boas ganha força pelo atual momento de discussões ambientais pela construção da Usina de Monte Belo. Outro fato é que o diretor já é conhecido dos acadêmicos quando foi para última seletiva com O ano que meus pais saíram de férias, em 2009. Seu problema, é que não conseguiu agradar tanto o público.


À beira do caminho

O interessante road movie de Breno Silveira conseguiu agradar o público e a crítica com a emocionante história de um homem que viaja em um caminhão na companhia de um menino, onde um procura a expiação de pecados de seus passado e o outro suas origens. O trunfo do filme está na atuação formidável de João Miguel, no roteiro bem elaborado por Patrícia Andre, baseadas em canções de Roberto Carlos, e uma fotografia agradável. Talvez por ter várias semelhanças com Central do Brasil, o longa caia em desagrado entre os votantes da Academia.


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Personagens inesquecíveis: Gilda (Rita Hayworth)

Filme: Gilda (1946)

"Nunca houve mulher como Gilda". Só essa frase, que sobrevive por mais de seis décadas, é possível colocar o personagem de Rita Hayworth no hall dos inesquecíveis. Apesar de não ter ganho nenhum prêmio importante, seu temperamento difícil e uma exuberante sensualidade, povoou as fantasias masculinas e virou um ícone a ser seguido entre as mulheres. O erotismo subliminar em seus olhares, no modo como conversava, no seu jeito de fumar, fez dela a primeira grande femme fatale que tivemos o prazer de acompanhar. O mito em torno do personagem é maior até mesmo do que a atuação de Hayworth (apenas mediana) e que a qualidade do filme, que tem roteiro pobre, garimpado de antecessores bem melhores.  Sim, nunca houve ninguém como ela.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Dez filmes para aplaudir


Belos, históricos, lendários, surpreendentes, ousados. Os filmes desta lista tem um algo a mais para apresentar além das fronteiras do puro entretenimento. Obras de fiel apreciação que ganham status comuns frente a elementos incomuns expostos por seus admiradores. Por isso são chamadas de obras-primas, aquelas que marcam a vida e história do público e do próprio cinema. Ramificada por diferentes gêneros, mas com uma só ordem. A de se fazer arte através das telas: 
 

O PODEROSO CHEFÃO (The Good Father, 1972)
Modelo para todos os filmes de gângsteres posteriores”
PREVIEW

Clássico. Esta é a palavra que mais se encaixa para adjetivar um filme de tamanha grandeza cinematográfica, ousadia pessoal e monstruosidade nas bilheterias dos cinemas. Tudo na obra-prima de Francis Ford Coppola soa a clássico. As histórias curiosas enveredadas nos bastidores, a escolha incomum do elenco de personagens míticos, e o processo de transposição da obra literária para o cinema. O ítalo-americano Mario Puzzo jamais seria esquecido pelas Academias de letras e sets de filmagem. Uma façanha histórica pautada no trabalho do autor que além de escrever, também ajudou no roteiro do filme que desenvolve uma fascinante história com todos os dramas, conflitos e interesses pessoais da lendária Família Corleone na América pós-guerra. Talvez este tenha sido um dos principais indicadores para o sucesso “seguro” da complicada arte de adaptação cinematográfica. Com o mesmo autor do livro a frente do projeto, podemos apenas esperar para vislumbrar no final uma obra impecável, cheia de nuances dos personagens que por conta disso entraram para a história. Houve duas outras sequencias, mas certamente a primeira impressão é a fica. Quando do se fala em O poderoso chefão imediatamente nos vem em mente o nome de Marlon Brando. Um dos maiores astros do cinema teve sua participação ameaçada no filme e só uma “teimosia” convicta de Coppola, fez os donos de o estúdio ceder. E o resultado de tanto esforço por parte do diretor pode ser acompanhado pelo desempenho extraordinário do ator que tornou Don Vitto Corleone um dos rostos mais conhecidos e figura mais aplaudida da história do cinema. Um êxito em todos os sentidos. Um filme poderoso.

Palmas para ela: um filme de tantas sequências memoráveis fica até difícil escolher por uma. Então, vamos citar uma cena tão memorável que se tornou modelo para os outros filmes do gênero. A emboscada no posto de gasolina sofrida pelo personagem Sonny Corleone (James Caan) quando seu corpo é brutalmente alvejado por rajadas incessantes de metralhadoras. A cena se tornou um marco antológico do gênero.


O EXORCISTA (The Exorcist, 1973)
Saber que tudo isso é baseado em fatos reais, piora um pouco as coisas”
MONET

O maior clássico do cinema de horror teve sua origem em fatos reais. Isto torna o filme de William Peter Blatty algo inesquecivelmente assustador. Nele, uma mãe (Ellen Burstyn) se muda com a filha Regan (Linda Blair) para uma estranha casa a fim de recomeçar. No entanto, neste processo, a vida logo se transforma em prenúncios inquietantes de morte. A relação cambaleante entre mãe e filha é interrompida abruptamente por forças sobrenaturais inexplicáveis quando Regan passa a ser dominada por um espírito das trevas. Para ajudar sua filha, a mãe faz o que qualquer mãe da vida real faria neste caso. Ela recorre a médicos e exames antes do apelo desesperado por um poder tão maior quanto a que elas estão confrontando. O arauto da salvação vem na força personificada pelo destemido padre Merrin (uma atuação assombrosa de Max Von Sydow), o “herói” da família. Com sequências tão arrepiantes quanto inesquecíveis, O Exorcista se difere dos outros filmes do gênero por inserir uma história dramática pautada em conflitos pessoais metaforicamente maximizadas nas cenas de terror solo da menina Regan. Por isso, esta obra não pode ser caracterizada apenas como mais um filme para assustar. Uma apocalíptica batalha entre o Bem e o Mal. Trata-se de algo diferenciado, fazer cinema de primeira grandeza vivenciada por um elenco bem dirigido em atuações ricas e convincentes. O primeiro do gênero a ser indicado a melhor filme. Assombroso, pavoroso, inquietante, espetacular. Uma obra que exerce um fascínio fiel mesmo com os incidentes ocorridos durante suas gravações nos sets de filmagens. Apontado por 10 entre 10 especialistas do ramo como imperdível pode fazer você saltar da cadeira!

Palmas pra ela: Linda Blair brilhou em cenas que causaram as mais diversas reações do público. Em uma delas, a menina Regan desce as escadarias de costas numa imagem chocante e há quem se lembre do giro de 360 graus que sua cabeça dá em repulsa ao padre. Uma atuação tão perfeita psicologicamente e consumadora fisicamente que custou o futuro da carreira da menina, que nunca conseguiu de desvencilhar das imagens do filme.


AMADEUS (Amadeus, 1983)
O resultado é um texto afinado, que ganhou nas telas um visual apurado e direção e interpretações inspiradas”.
CINEMATECA VEJA

Um homem dividido em dois.” Assim se define o compositor italiano Antônio Salieri (F. Murray Abraham) em sua jornada particular na conturbada relação com o gênio Mozart (Tom Hulce). A história que o diretor Milos Formam levou para as telas não se trata genuinamente de uma biografia de um dos mais famosos compositores do mundo. O filme se centra na figura do compositor Salieri que narra durante uma confissão no hospício como suas emoções em relação à figura de Mozart terminaram por afetar seu juízo. Diante de um perplexo padre (Richard Frank), ele descreve sua paixão pela música que o levou a ser o melhor compositor de Viena, até que a chegada de seu rival à cidade expôs toda sua mediocridade ao mundo. Um misto de inveja e admiração é condensado de forma mágica, na sublime interpretação de F. Murray. Tom Hulce também faz um excelente trabalho como o compositor em sua face extrovertida (aquela gargalhada contagiante é formidável!). Embora haja muita controvérsia em torno desta rivalidade de quem realmente seja o mocinho e o antagonista, o que fica é um show de beleza cinematográfica de mais uma das muitas versões da lendária história do compositor aqui mostrado como um homem que apesar de possuir um talento nato para a música, vive suas paixões de forma natural. Entre farras, brincadeiras e bebedeiras, faz de sua personalidade escrachada e até um pouco obscena, um ultraje à sociedade conservadora. Como todo gênio, foi incompreendido por muitos, exceto por seu mais ilustre admirador e algoz na versão de Salieri. Uma história avassaladora, inspirada numa peça brilhante de Peter Schaffer. Entre notas, acordes, sopranos e afins, tudo é deslumbrante em cenas estarrecedoras. Vencedor de 8 prêmios da Academia, é uma obra-prima de raro dueto. A música fabulosa é um êxtase para os ouvidos e Amadeus um êxtase para os olhos.

Palmas pra ela: a produção técnica do filme. Impecável no som, figurino, maquiagem, direção de arte, edição, fotografia. Ícones indispensáveis para se produzir uma obra de grande apreço visual.


O ÚLTIMO IMPERADOR (The Last Emperor, 1988)
O espetáculo é tão grandioso que a história se torna ornamento.”
SET ESPECIAL – 1000 vídeos

Um filme excepcionalmente grandioso que de tão absoluto venceu todas as categorias que disputou no Oscar naquele ano. Foram 9 em 9 indicações. O que transforma esta colossal cinebiografia em uma grande proeza. O último Imperador fascinou plateias do mundo inteiro com um magnífico espetáculo visual, onde podemos fazer uma viagem cheia de êxtase pelas ruínas da misteriosa China. O fascínio em torno da milenar e heroica história chinesa atiça a curiosidade de qualquer civilização. Isso por si só já é um bom motivo para se assistir ao filme. A maior obra-prima do talentoso diretor italiano Bernardo Bertolucci teve por mérito conseguir conciliar história, arte e cinema. Uma mescla poderosa que sintetizou com maestria o que chamamos de arte na mais concepção de todas as palavras. Para contar a fascinante biografia de Pu Yi (John Lone), o último soberano da China pré-revolucionária, o roteiro é desenvolvido em sequências grandiosas, emocionantes e instigantes. Um homem que teve de apender a conviver com o lado mais humano de ser um Deus entre seus súditos. Um homem que se sentiu prisioneiro dentro de sua própria casa, a chamada Cidade Proibida. A presença de um tutor inglês (Peter O’Toole) alimenta sua curiosidade em relação ao novo mundo. Quando eclode a revolução chinesa, o Monarca é deposto, acusado de traição dos novos ideais. Na prisão, misturado a outros, ele relata toda sua impressionante trajetória. Uma perfeita radiografia da luta pelo poder em tempos de reformas ideológicas. O diretor teve de usar de recursos técnicos verídicos em sua produção. Bertoluccci foi o primeiro cineasta a filmar no interior da cidade proibida. Um feito tão histórico quanto o magnifico filme que realizou posteriormente. Umas das últimas obras-primas reais do cinema.

Palmas para ela: a fotografia, a exuberância das imagens fundidas em cores vívidas numa espetacular trilha sonora. Arte pura sem a necessidade de palavras para expressar tamanho deslumbramento.



O SILÊNCIO DOS INOCENTES (The silence of the lambs, 1990)
Realmente, tudo funciona neste filme”
SET

Um jogo de gato e rato se desenrola no filme brilhantemente arquitetado por Jonathan Demme entre as paredes de uma penitenciária de segurança máxima onde se encontra um dos maiores serial-killers da história do cinema. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins) é o claro exemplo de uma mente brilhante que depois de usar seus poderes para o mal é abdicado de seu convívio com humanos. O psiquiatra aparentemente amistoso conduzia suas consultas de forma nada convencional quando se alimentava (ughr!) de suas vítimas. Quando uma série de desaparecimentos e assassinatos chama a atenção o FBI eles enviam sua melhor agente para o caso. A destemida Clarice Starling (Jodie Foster), ainda está na Academia, mas seu diretor (Scott Gleen) vislumbra nela um grande futuro profissional. Assim, a bela agente faz uma espécie de pacto com o diabo para obter sucesso no caso que mudará sua vida. Ela procura o renomado Lecter para trocar pistas e informações a respeito. O psiquiatra usa toda sua lábia profissional para formular uma relação psicologicamente íntima com a agente. Lecter tece uma teia de emoções dantes esquecidas por Clarice. Cria-se uma admiração empática entre ambos, levando-a a superar antigos traumas. E dá-se início a uma das mais rendosas parcerias do cinema. Os personagens se tornaram míticos, os atores famosos e o filme lendário. O Silencio dos inocentes foi uma das raras obras que conseguiu a proeza de levar todos os prêmios mais relevantes do Oscar: melhor filme, direção, ator, atriz e roteiro. Uma obra que de tão surpreendente nos deixa em silêncio para apreciar personagens notáveis em trabalhos brilhantes.

Palmas pra ela: as atuações de Hopkins e Foster entraram em várias listas de grandes performances do cinema. Uma química única ajudada pela construção minuciosa dos perfis de seus personagens (Hopkins e os olhos hipnotizantes de Lecter) em um roteiro excepcional.


O RESGATE DO SOLDADO RYAN (Saving private Ryan, 1998)
Aqui Steven Spielberg arrasa na direção e faz um dos melhores filmes de Guerra de todos os tempos”
CINEPLAYERS

Como um filme de guerra, bombas e explosões, pode ser considerada uma obra imperdível e de beleza sem igual? A resposta é uma só: Steven Spielberg. O mago do cinema nos brinda com um filme que leva às lágrimas mesmo tendo em seu casting principal personagens masculinizados. Tudo começa com uma sequencia espetacular de quase 20 minutos numa representação da famosa batalha na praia de Omaha, no chamado Dia D quando as tropas americanas avançaram na Guerra e segue o Capitão Miller (Tom Hanks) em sua última missão com um grupo de soldados de Elite recrutados com um único objetivo: trazer de volta ao seio de sua mãe americana o destemido soldado James Francis Ryan (Matt Damon), depois que este perde seus irmãos em combate. Neste trajeto, os perigos eminentes de uma malfadada Guerra se apresentam da forma mais dramática possível, descaracterizando o gênero. Batalhas sangrentas e mortais servem como pano de fundo de um roteiro bem apurado que poderia ser simples neste contexto. Mas se tratando de Spielberg sempre esperamos por mais. O mais de O resgate do soldado Ryan consiste em adicionar cenas técnicas, estrondosas e cheias de testosterona a algo emocionante, singular, de uma beleza indissolúvel quando mostra homens da guerra antes de heróis condecorados, humanos com seus medos e inquietações diante do desconhecido. Spielberg captura as cenas brutais catapultando momentos singelos como se ouvir Piaf antes da inesquecível batalha na ponte. Por tudo isso, o filme é uma exímia obra de arte que emociona na brutalidade dos tiros e canhões. Um resgate da genialidade em se fazer algo inesquecível.

Palmas pra ela: As interpretações seguras Matt Damon, Giovanni Ribisi e Edward Burns desnudam seus personagens com uma veracidade impressionante. Encabeçados pelo excelente Tom Hanks, o elenco do filme não deixa por menos e com certeza é um dos responsáveis pelo êxito do filme.


KILL BILL (Kill Bill, 2001)
Um lindo delírio visual”
FOLHA DE SÃO PAULO

Um dos melhores e mais divertidos filmes de ação de todos os tempos é considerado uma obra-prima do mestre do excêntrico Quentin Tarantino. Acostumado a se enveredar pelos caminhos da Torre de Babel cinematográfica, aqui ela recria uma famosa personagem americana dos quadrinhos, dá corpo à sua conhecida personalidade e uma espada de samurai a tiracolo. Elementos capciosos em sua busca sangrenta por vingança. Bellatrix Kiddo (Uma Thurman) fazia parte de uma poderosa organização criminosa e tinha como missão assassinar pessoas por encomenda – As víboras mortais -, liderado pelo mafioso, bandido, traficante, ou uma destas denominações de coisas ruins Bill (David Carradine). Depois de engravidar, Bellatrix (de codinome Mamba negra), tenta mudar de vida, assumindo uma nova identidade e prestes a constituir família. Entretanto, os fantasmas de seu passado retornam na forma de quatro assassinos do clã que promovem um massacre em seu casamento deixando-a em coma. Mais tarde ela acorda em busca de vingança contra seus algozes. Munida de uma poderosa arma, ela começa a espalhar uma trilha de sangue pelo caminho. Um a um seus inimigos sucumbem a sua Hattori Hanzo e o que se vê é um show de A noiva conjurada por lutas vibrantes, mutilações inesquecíveis em meio a uma grande e boa dose de senso de humor reforçada pela construção perfeita dos coadjuvantes. Marcas de Tarantino. O obvio se transforma em algo inusitado que a cada cena ou golpe desferido, se faz de forma memorável. Uma belíssima homenagem ao cinema de ação particularmente Kung-Fu. Ideia alimentada pela presença do astro Carradine e lendas japonesas. Kill Bill pode ter a morte no nome, mas paradoxalmente fala de vida. Vida inteligente no cinema.

Palmas pra ela: a sequência arrasadora do confronto na casa das flores azuis. O olhar ferino da justiceira vingadora parece pouco diante do poder de destruição de seu instrumento da morte. Sua espada cantou nos membros de seus adversários promovendo um verdadeiro massacre pela tela. O visual escarlate deu lugar a traços incolores da sequencia para dar ênfase ao derramamento de sangue. Genial!


O LABIRINTO DO FAUNO (Pan’s labirinth, 2005)
O Labirinto do fauno oferece muito para admiração do público”
1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER

Considerada a obra mais madura do surpreendente diretor Guilhermo Del Toro, esta estória dentro da história foi uma grata surpresa do Oscar de 2006. Levou 3 estatuetas em categorias técnicas (maquiagem, direção de arte e fotografia). A minúcia realista desta obra causa tanta admiração quanto espanto. As características técnicas apoiadas num roteiro formidável dão ao filme um merecido status de algo admirável em que viajamos por um mundo de fantasia captado pela meiguice da menina Ofélia (Ivana Baquero). A garota poderia ser uma das conhecidas princesas de contos de fada. Mas ao contrário das fábulas infantis, Ofélia teve de se acostumar com a dura realidade trazida após a Guerra Civil espanhola. Enquanto suas “colegas” tinham uma madrasta má em seu encalço, a menina tinha como tormento um padrasto tão cruel que as madrastas más certamente temeriam. Quando se muda com sua mãe para a casa do Capitão Vidal (Sérgi López), ela se vê rodeada de tristeza e morte. Este caminho só poderia leva-la a uma fuga para outro mundo habitado por um dúbio Fauno. Através de um labirinto é avisada que é a reencarnação de uma princesa que perdeu a memória quando cruzou o limite entre os dois mundos. E para retornar, ela teria de passar por três difíceis provas, que lhe exigiriam astúcia, coragem e sacrifício. A simplicidade do filme para por aqui. Levantando questões mais relevantes do que o felizes para sempre, O Labirinto do Fauno nos transporta para dentro de um mundo apaziguado no coração angustiado de uma criança ao enxergamos por seu ponto de vista os horrores de tempos difíceis. O tom mais soturno de sua produção vai de contraponto as cores cintilantes de um mundo de fantasia. A junção coesa entre o horror da realidade e a sutileza da fantasia nos dá a certeza de que nos dias atuais, cada vez mais desejamos nos perder por este fabuloso labirinto de sonhos.

Palmas pra ela: a maquiagem vencedora do Oscar que certamente é um requisito importantíssimo na arte em se criar seres imaginários. Tudo é minunciosamente perfeito e dá à história a possibilidade em se enxergar beleza em algo soturno. Elemento raramente visto no cinema.


CISNE NEGRO (Black Swan, 2010)
Aronofsky leva o espectador a buscar a perfeição e deixa a emoção nas mãos de Natalie Portman”
SCI-FI NEWS

Intenso. Não há outro adjetivo melhor para definir uma obra de grande apreciação que desnuda as várias facetas da psique humana. Esta intensidade é deflagrada a cada sequência eletrizante do filme muito bem montado e dirigido por Darren Aronofsky. O diretor se tornou um especialista em criar monólogos intimistas de seus protagonistas nos brinda com uma obra que exala beleza em todos os poros. Cisne negro começa como o retrato fiel da dolorosa vida de quem se dedica a oferecer beleza ao espetáculo. Jovens belas e determinadas que flutuam sobre o palco depõe como um tema interessantíssimo. Por ele, acompanhamos a saga pessoal Nina Sayers (Natalie Portman, espetacular) como aspirante ao posto de protagonista de uma das mais famosas peças do mundo: O lago dos cisnes. E é obvio que para chegar ao topo, a frágil bailarina teve de enfrentar muitos adversários. A massacrante rotina de treinamentos com o exigente diretor, a mãe obcecada, uma linda e competente rival. No entanto, nenhum desses adversários se revelou tão forte quanto uma velha conhecida. E é justamente aí que o filme muda de contexto. Disposta a enfrentar sua maior rival, Nina mergulha intensamente na maior batalha de sua vida que vai além dos palcos. A busca pelo autoconhecimento. Para isso, sua sensibilidade apurada dá lugar a uma persona mais forte e sexual com a presença quase que irritante da colega Lily (Mila Kunis). As cenas entre as duas são de tirar o fôlego. Um trabalho que privilegia mais o lado sensual do que o sexual. Um poder desconhecido que ela só consegue controlar quando começa a se entender numa viagem eletrizante ao íntimo do ser. Uma das mais instigantes e belas obras do cinema. Tudo é perfeito. Tudo leva a perfeição. A música, a dança, os avanços voluptuosos da personalidade da protagonista em sequências apoteóticas. Impossível não se deixar levar pela beleza do cisne.

Palmas pra ela: A incrível metamorfose do cisne negro. Entre um rodopio e outro, o êxito físico e pessoal da personagem transborda na tela. Magnífico!


O ARTISTA (The Artist, 2011)
A novidade é que o diretor resolveu usar a falta de palavras e o uso escasso do som como instrumento de linguagem, conferindo-lhe um charme a mais.”
PREVIEW

Ousadia é uma marca registrada para elevar uma obra a algo admirável e inesquecível. Este foi o elemento pilar deste vencedor do Oscar de 2012. O Artista falou brilhantemente de cinema sem dizer uma palavra sequer. Uma homenagem a Era de Ouro do cinema mudo que arrebatou milhões de fãs pelo mundo afora. o filme de Michel Hazanavicius tinha tudo para ser um fracasso, mas se tornou surpreendente, mágico, vibrante. Com uma ideia atemporal, o filme não precisa de avançados recursos tecnológicos para tocar fundo na alma. Em tempos de explosões cataclísmicas para atrair bilheterias, é um belo retorno à ideia primordial de fazer cinema como arte. Como se trata de uma obra muda e em preto-e-branco coube ao valioso elenco atores o árduo trabalho de passar sua mensagem por meio de caras, bocas e expressões corporais inconfundíveis da época. Isso fez do francês Jean Dujardim um oponente imbatível na corrida do Oscar. Perfeito e ambas as interpretações tanto física quanto psicológica nas emoções de seu galã decadente. George Valentim era o Deus das telas quando sua aparência “falava” por ele, despertando inúmeras paixões. Entre elas se encontrava a carismática Peppy Miller (Bérénice Bejo) cuja carreira se ascende paralelo a descendente de seu maior ídolo que sofre intensamente o golpe da chegada do cinema sonoro. Sua aparência já não mais poderia servi-lo na carreira. Assim sendo, o Deus virou um mero mortal e como tal se expõe as mazelas de se conviver entre os mortais. Falido, assiste sua pupila cada vez amada por um público que já foi seu, mas luta até o fim para não “vender” seu talento aos tubarões corporativos da época. “Sou um artista, não um boneco”. Tudo transcorria para um triste final até que é resgatado por sua fiel admiradora que com ele forma uma dupla de sucesso. Um final feliz para um filme de final feliz. A trajetória do protagonista é uma alusão a própria trajetória do gênero em questão. Um cinema que todos acreditavam estar perdido, mas que foi corajosamente resgatado numa obra-prima que entra para os anais da história cinematográfica como uma arte imortal.

Palmas pra ela: a sequência final do filme na dança sincronizada de Valentim e Miller. Ambos os atores retrataram a química fantástica de seus personagens numa cena de pura alegria e deleite.